Título: Favores de Marcos Valério a ex-mulher fragilizam Dirceu no Conselho de Ética
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Política, p. A6

O ex-ministro José Dirceu (PT) depõe hoje na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, um dia depois da veiculação de notícias sobre os favores que Marcos Valério de Souza fez a sua ex-mulher, a psicóloga Maria Ângela da Silva Saragoça. O empresário mineiro acusado de ser o principal operador do mensalão ajudou a ex-esposa de Dirceu a conseguir um emprego no Banco BMG e um empréstimo imobiliário no Banco Rural. As informações, divulgadas ontem pelo "Correio Braziliense" e "Estado de Minas" e confirmadas pelos dois bancos, deixam o ministro numa situação mais vulnerável no depoimento de hoje. Maria Ângela Saragoça divulgou extensa nota para garantir que Dirceu não interferiu ou teve conhecimento dos pedidos de emprego e de empréstimo. "Ontem (domingo) à noite, quando relatei a José Dirceu os detalhes desta situação, o fiz com muita tristeza e consternação, pois tenho consciência que posso ter sido um instrumento para abalar sua imagem pública", declarou, no texto divulgado no site do PT. A psicóloga argumentou que até o início da crise política, acreditava que Marcos Valério era "amigo de amigos e disposto a ser solidário", como muitos que conheceu no ambiente petista. "Agora me dou conta que fui usada por este senhor, que tinha interesses próprios e provavelmente visava comprometer o ex-ministro José Dirceu", afirmou. Em seu relato de como ocorreram os fatos, Maria Ângela contou que procurou o ex-marido no segundo semestre de 2003 pedindo ajuda para trocar o apartamento onde vivia com a filha por um maior. Como Dirceu disse que não poderia colaborar, a psicóloga decidiu procurar um novo emprego para poder trocar o imóvel com recursos próprios. Segundo ela, o ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira - que conhece há mais de 20 anos e tinha conhecimento das suas intenções -, a apresentou a Marcos Valério em setembro de 2003. Nesta ocasião, o empresário mineiro prontificou-se a ajudá-la a conseguir um novo emprego e, caso fosse do seu interesse, um financiamento imobiliário para a compra do novo apartamento. Em outubro, de acordo com a versão de Maria Ângela, o BMG lhe fez um convite para uma entrevista de emprego. A ex-mulher de Dirceu foi contratada em novembro como segunda psicóloga do Departamento de Recursos Humanos da filial do banco em São Paulo. "O novo emprego permitiu a renda adequada para que eu me credenciasse a créditos imobiliários", declarou, na nota. A psicóloga contou que acertou a venda de seu antigo apartamento para o petista Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular em novembro. Mas só descobriu que o efetivo comprador era outro no ato de transferência da escritura. O comprador do imóvel foi Rogério Tolentino, advogado e sócio de Marcos Valério num escritório em Belo Horizonte. A ex-mulher de Dirceu alegou só ter tomado conhecimento agora das relações entre Marcos Valério e Tolentino. Com a venda do imóvel e do carro que possuía, Maria Ângela diz ter conseguido parte dos recursos para a compra do novo apartamento, precisando financiar apenas os R$ 42 mil restantes. A contratação do empréstimo no Rural foi, segundo ela, uma indicação do empresário mineiro. "Os encaminhamentos que adotei são de minha inteira responsabilidade e foram conduzidos da maneira autônoma pela qual sempre geri minha vida", declarou a psicóloga, encerrando sua nota. Antes mesmo da divulgação das explicações de Maria Ângela, o Banco Rural distribuiu nota para esclarecer que o empréstimo foi efetuado diretamente para a psicóloga no valor de R$ 42 mil e não de R$ 200 mil a Dirceu, como havia sido divulgado. De acordo com o banco, o empréstimo de 36 parcelas foi concedido em acordo com as regras do Sistema Financeiro de Habitação e encontra-se em dia. O BMG confirmou que a recomendação de Maria Ângela para a vaga em São Paulo foi feita por Marcos Valério. Ao contrário do que foi publicado, o banco negou que ela tenha pedido demissão há 15 dias. Rogério Tolentino confirmou ter comprado o apartamento de Maria Ângela em novembro de 2003, por R$ 115 mil. Ele teria feito a aquisição a pedido de Ivan Guimarães, que o teria abordado com a questão: "Você quer ajudar a mulher do ministro José Dirceu? Ela precisa vender com urgência um apartamento". (Com agências noticiosas)