Título: Lula diz que Delúbio "enterrou" o PT
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Política, p. A7

Crise Presidente diz a aposentados da Força Sindical que não vai "negociar com o capeta" para se reeleger

Em encontro ontem com aposentados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não tem "o rabo preso com ninguém" e que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, "enterrou" o partido ao fazer um empréstimo milionário sem ter como pagar. Em tom de desabafo, Lula ressaltou, segundo relato dos aposentados, que não vai chegar ao ponto de "leiloar o governo ou negociar com o capeta" para tentar a reeleição e que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso "rifou o governo" para conseguir a reeleição. Segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical, João Batista Inocentini, Lula ressaltou que não há corrupção no governo dele. "Pode ser que alguns do meu partido, de outros partidos erraram, pegaram dinheiro por aí , mas sem a minha autorização", disse Lula segundo o presidente do sindicato. "Lula falou que Delúbio enterrou o partido, está devendo R$ 65 milhões que prometeu e não tinha dinheiro para dar." Segundo Inocentini, Lula salientou que, como pessoa, ele nunca defendeu a reeleição. "Ele nos disse que se ele precisar ir para a reeleição para negociar até com o capeta ele não vai. Mas se ele estiver bem, se a situação estiver boa, ele disse que não vai precisar leiloar o governo e vai se candidatar". Em outra solenidade, Lula assinou ontem projeto de lei que prorroga até 2009 a isenção de IPI para compra de carro novo pelos taxistas e portadores de deficiência. Na mesma proposta, o governo também reduziu de três anos para dois anos o período de carência para que o motorista de táxi possa vender o carro. Para formalizar o envio do projeto ao Congresso, o presidente foi ao Sindicato dos Taxistas em Brasília, mas deparou-se com um quórum baixo. Dos 10 mil taxistas filiados ao sindicato, apenas cerca de 200 compareceram ao evento, realizado no pátio do sindicato, debaixo de sol quente. Nem de longe o encontro foi semelhante aos realizados com sindicalistas, em São Paulo. Ao discursar, o presidente destacou que, independente do que ocorrer no país daqui para frente, o importante são as medidas que o governo está fazendo para dar maior dignidade à classe trabalhadora. "Estejam certos de uma coisa. Independentemente do que aconteça daqui para frente neste país, independentemente de ser candidato ou não, isso não está em jogo. O que é importante é que todos os trabalhadores brasileiros conquistem, nesse nosso mandato, o direito de viver com dignidade." Lula não falou diretamente sobre a crise política, mas, ao comentar a possibilidade de o governo criar uma linha de financiamento para a compra de táxis, voltou a dizer que o maior patrimônio dos trabalhadores e das pessoas mais pobres é o nome e a honra. "Porque a maior garantia que nós temos é o nosso nome. Outros podem ter vários tipos de garantia, outros podem ter casa, podem ter imóveis, aviões, podem ter o que quiserem para dar como garantia. O pobre tem a sua honradez para dar como garantia e isso é extraordinário para nós", salientou. O presidente estava acompanhado pelos ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e da Fazenda, Antonio Palocci. "Eu fiz questão que ele viesse aqui porque normalmente os ministros da Fazenda, ou qualquer tesoureiro de sindicato, de qualquer entidade, normalmente são tratados como se fossem as pessoas que impedem maiores benevolências de liberação de recursos para todas as nossas necessidades", ressaltou o presidente. "Mas quero ser testemunha de que a idéia da prorrogação foi do companheiro Palocci." O presidente recebeu elogios dos dirigentes dos sindicatos presentes, que o receberam com faixas de agradecimento. O presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo, Natalício Bezerra da Silva, tentou tirar do presidente a responsabilidade sobre as denúncias de corrupção envolvendo o governo e o PT, afirmando que "o pai às vezes não sabe o que o filho está fazendo. Imagina então o presidente da República".