Título: Bornhausen endurece discurso e rejeita acordo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Política, p. A8

Diante das especulações sobre um eventual acordo no Congresso entre governo e oposição, de forma a minimizar os efeitos da crise, preservando alguns políticos e garantindo a aprovação de projetos de interesse nacional para manter a governabilidade até 2006, PFL e PSDB decidiram endurecer o discurso e mandaram recados ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a seus principais interlocutores, entre eles o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A oposição alega que estará pronta a discutir a aprovação projetos pontuais - sobretudo os de impacto econômico -, desde que o governo leve o debate para dentro do Congresso. Palocci esteve em contato com líderes oposicionistas nas últimas duas semanas, e chegou a propor uma reunião para a discussão de uma agenda propositiva. Com a alta temperatura política, o convite foi oficialmente rejeitado. Se quiser diálogo, Palocci terá que propô-lo via líderes governistas, para só então buscar a ponte com a oposição. Foi o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que elevou o tom das críticas a Lula e deixou claro ontem a estratégia da oposição de delimitar o território político em meio a crise e colocar um freio de arrumação nos discursos de pefelistas e tucanos. "O PFL não se senta nem se sentará com integrantes do atual governo, por falta de autoridade moral, política e administrativa, mas estaremos no Congresso para discutir e votar os projetos em tramitação. Combatemos o governo incompetente que se deixou vencer pela corrupção. Não votamos contra o Brasil", afirmou Bornhausen. O senador pefelista acrescentou ainda que o presidente, em seus últimos discursos, apela para um tom emocional "desnecessário" com o objetivo de desviar o foco da crise e das investigações em curso. Bornhausen citou especificamente o discurso em que Lula alertou para a vulnerabilidade da economia. "Se o ministro (Palocci) quer conversar sobre uma agenda propositiva, que venha conversar aqui. Se for uma conversa sobre blindagem no campo econômico, ele pode contar com antecipação com nosso apoio. Deve se preocupar é com a turma do PT, com Plínio de Arruda Sampaio e outros. É a banda petista que contesta Palocci que oferece perigo à economia", afirmou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou que é papel de quem governo defender os melhores projetos e propostas para o país. Ele citou como exemplos a reforma tributária e a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Se a oposição se furtar a debater tais projetos, acrescentou ele, terá que responder por isso. A reação do PFL e do PSDB ocorre no momento em que parlamentares dos dois partidos foram afetados pela crise. O deputado federal Roberto Brant (PFL-MG) admitiu ter recebido recursos da empresa Usiminas, via a agência de publicidade SMP&B. O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-governador de Minas Gerais, também viu seu nome envolvido nas denúncias. O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio da SMP&B e da DNA Propaganda, fez empréstimos para o PSDB e deu como garantias contratos no governo mineiro, na época de Azeredo. O tucano dará explicações hoje à CPI dos Correios. Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), Azeredo e Brant não podem ser jogados no epicentro da crise. "Não vamos fazer o jogo de conveniência para o governo. Estão supondo que Eduardo Azeredo sabia de tudo (que ocorreu durante seu governo) ao mesmo tempo em que querem me fazer acreditar que o Lula não sabia de nada", ironizou o tucano.