Título: Embarques compensam efeito do preço elevado
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Especial, p. A12

A balança comercial brasileira de petróleo e derivados só registrou o efeito do aumento da produção de petróleo da Petrobras e da queda do consumo de derivados no país em julho. Os embarques desses produtos deram um salto no mês passado: a média diária das vendas de petróleo e derivados ficou em US$ 68,5 milhões em julho, 309% acima de junho e 178% acima da média do primeiro semestre do ano, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os embarques do produto tiveram participação expressiva na alta de 28,9% das exportações totais de julho de 2005 ante julho de 2004. Excluído o petróleo, o crescimento das exportações teria sido de 18,4%. Já as importações de combustíveis e lubrificantes ficaram praticamente estáveis no mês, com média diária de US$ 46,7 milhões, 1,2% acima de junho e 0,7% superior a julho de 2004. Os economistas esperam uma consolidação da queda das importações totais de petróleo e derivados do país e o início do aumento das exportações durante o segundo semestre, o que compensará o rombo que o forte aumento dos preços do produto poderia provocar na balança. "Apesar da volatilidade, os embarques de petróleo devem se manter em um novo patamar por conta da produção da Petrobras", diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult. A MS Consult estima exportações de petróleo e derivados de US$ 7,39 bilhões em 2005, alta de 29% ante 2004. As importações devem crescer 19,9%, para US$ 13,75 bilhões em igual período. Assim, o déficit aumentaria 10,8%, para US$ 6,36 bilhões. "Um aumento de apenas 11% no déficit é um feito extraordinário quando os preços sobem 37%", diz Silveira. Ele estima o preço médio do petróleo em US$ 52 por barril em 2005. Sérgio Conti, economista da Tendências Consultoria, projeta queda de 11,4% no déficit da balança de petróleo e derivados do país, para US$ 5,04 bilhões, apesar de prever alta de 33% dos preços do produto. "Com o aumento da produção da Petrobras, o Brasil reduzirá as importações de petróleo bruto e aumentará as exportações de derivados na medida em que elevar a capacidade de refino", diz Conti. Ele projeta queda de 3,7% nas importações de petróleo e derivados para US$ 11,42 bilhões em 2005 e alta de 4% nas exportações, para US$ 5,96 bilhões. O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) não utiliza a Secex em suas projeções e trabalha com os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que não contabiliza derivados como produtos químicos e petroquímicos. Segundo as projeções do CBIE, o déficit de petróleo e derivados deve cair de US$ 4,7 bilhões em 2004 para US$ 4,3 bilhões em 2005. Com o aumento da produção de petróleo do país, o CBIE espera queda das importações brasileiras. Adriano Pires, economista da instituição, ressalta que a queda das importações também é resultado do menor consumo de derivados no país, por conta da desaceleração da economia. O CBIE também não descarta aumento abrupto das exportações, porque pode sobrar petróleo pesado. Até o primeiro semestre, a balança de petróleo e derivados do país não apontava as mudança provocadas pelo aumento da produção de petróleo. Pelo contrário. As exportações brasileiras de petróleo e derivados somaram US$ 2,87 bilhões de janeiro a junho, apenas 7,3% acima do mesmo período em 2004. Os analistas explicam que as novas plataformas da Petrobras demoraram para entrar em funcionamento. Além disso, há uma defasagem entre os dados da Petrobras e da Secex. Segundo Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o aumento da exportação de petróleo e derivados no primeiro semestre foi resultado da explosão dos preços. Os preços de exportação dos combustíveis subiram 32%, enquanto o quantum caiu 24%.