Título: Esvaziamento da crise via renúncias agrada
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Finanças, p. C2

A baixa liquidez exibida ontem em todos os segmentos demonstra que o mercado financeiro não se sente seguro para surfar na volatilidade. Investidores tradicionais e conservadores se abrigam na renda fixa e abrem espaço, no câmbio e na Bolsa de Valores, para as operações de tiro curto das tesourarias e do capital estrangeiro mais agressivo. Como não há recursos a consolidar as tendências, os bons números de fechamentos dos mercados se revelam inconsistentes, sujeitos a súbitas reviravoltas. A Bovespa deslanchou na meia-hora final do pregão graças à renúncia do presidente do PL, Waldemar Costa Neto, ao seu mandato de deputado federal por São Paulo. A Bolsa gostou da atitude por dois motivos: 1) pode ser o início de uma onda de renúncias que conduza a um fim mais rápido da crise política; e 2) a justificativa usada por Costa Neto encampa a tese do crime eleitoral já defendida pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e pelo presidente Lula. Se circunscrita à esfera eleitoral, a irregularidade torna a crise menos grave em comparação os escândalos de corrupção. A Bovespa fechou em alta de 0,98%, com 26.298 pontos e volume acanhado de R$ 1,11 bilhão. O mercado de câmbio, por fechar mais cedo, aproveitou-se apenas parcialmente da nova leitura dada à crise política. Ao longo do dia, o dólar e os bônus brasileiros negociados no mercado secundário de Nova York sofreram os efeitos do estresse internacional derivado da queda da moeda frente ao euro, da alta dos juros dos papéis de 10 anos do Tesouro americano e da escalada do petróleo. A morte do rei saudita Fahd empurrou o preço do petróleo a US$ 61,57 na Nymex, alta de US$ 1,00. O petróleo mais caro se junta a um grau imprevisto de aquecimento da economia americana para compor um cenário propício a um repique inflacionário a ser combatido pelo Federal Reserve (Fed) com reforço do aperto monetário. Os juros dos T-Bonds de 10 anos avançaram a 4,35%, ante 4,28% na sexta-feira, depois que o Institute for Supply Management (ISM) informou que o setor manufatureiro dos EUA expandiu-se no mês passado pelo 26º mês consecutivo. No início da noite, as taxas tinham recuado para 4,31%, mas trata-se de uma arrancada frente aos 4,19% que prevaleceram na quinta-feira.

Estresse externo afeta dólar e risco-país

Após o leve recuo do juro americano, o câmbio pôde comemorar os recordes relativos ao comércio exterior divulgados ontem pelo governo. Tanto o superávit da balança comercial em julho, de US$ 5,011 bilhões, quanto o volume exportado, de US$ 11,061 bilhões, foram recordes históricos. E o dólar fechou em queda de 0,46%, cotado a R$ 2,3690, mas o movimento foi fraco. O risco-país fechou estável a 401 pontos-base. O pregão que se encerra mais cedo, o de juros futuros negociados na BM&F, não espelhou a melhora dos outros segmentos. Os contratos com maior giro apresentaram alta. O contrato mais líquido (R$ 5,26 bilhões), para janeiro de 2007, subiu de 17,94% para 18%. O swap 360 dias subiu de 18,35% para 18,40%. Os contratos mais curtos, para o final de agosto, setembro e outubro, prevêem estabilidade da Selic em 19,75% na reunião deste mês do Copom, baixa de 0,25 ponto em setembro e corte de 0,50 ponto em outubro.