Título: PFL retoma discurso anti-comunista
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2004, Política, p. A-9

Eleições Partido acredita que vantagem de petista se reduz dia a dia e chama Cesar Maia para ajudar na campanha

PFL retoma discurso anti-comunista Maria Lúcia Delgado De Fortaleza

O PFL decidiu jogar as últimas fichas na disputa em Fortaleza para reverter a desvantagem na disputa com o PT que, de acordo com as últimas sondagens do Ibope e Datafolha, superaria quinze pontos percentuais. O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, desembarca na manhã de hoje na capital cearense para ajudar o correligionário Moroni Torgan. O impacto da visita foi cientificamente calculado. Pesquisas internas do partido mostram que a vantagem da petista Luizianne Lins está se reduzindo diariamente, chegando a apenas cinco pontos percentuais, e que há uma chance na reta final. "Cesar Maia teve sucesso eleitoral e gerencial", ponderou o secretário-nacional do PFL, Saulo Queiroz. Além de exibir uma figura nacionalmente conhecida do partido, o candidato Moroni Torgan apelou até para a ideologia. Inserções do pefelista na TV lembram a velha perseguição política aos comunistas. "O marxismo é contra a propriedade privada. E Luizianne é contra a propriedade privada", diz um trecho da inserção. O apresentador afirma na TV, ainda, que a petista, se eleita, vai transformar empresas, como as de coleta de lixo, em repartições públicas. O objetivo do candidato do PFL é tentar identificar a imagem da petista com uma espécie de caos administrativo. A candidata do PT reage, acusando o pefelista de conservadorismo, moralismo e preconceitos com minorias. Em debate ontem na TV Jangadeiro, Luizianne Lins enfatizou que busca um diálogo com a Federação de Indústrias do Ceará. A petista teve ontem um encontro com representantes do setor produtivo. No debate, ela rebateu as inserções do pefelista: "O marxismo, visto como filosofia, é a mesma coisa que eu trazer para o debate eleitoral a religião. O senhor é mórmon. E eu não uso isso na campanha eleitoral. O senhor devia respeitar e não utilizar as minhas convicções filosóficas para deturpar as minhas propostas", disse ela. "A teoria marxista é pela estatização mesmo. E não fui eu que citei o marxismo. O marxismo é uma teoria de governo, que prevê a estatização. Nós vivemos no capitalismo. Essa convivência marxismo-capitalismo é antagônica. Terá uma convivência conturbada sempre. Quem perde é a geração de emprego, o desenvolvimento, a população carente. A senhora é contra a teoria de superávit, é a favor que a prefeitura fique deficitária. É irresponsabilidade fiscal", disse o candidato do PFL no debate. A opção de Moroni Torgan por esse discurso ideológico não encontra respaldo na direção nacional do PFL. De acordo com um integrante do partido consultado pelo Valor, esse tipo de retórica está "fora de moda" e em completa falta de sintonia com as expectativas do eleitor. Os pefelistas avaliam que Moroni Torgan toma atitudes de acordo com seu próprio "feeling", e que optou por recusar apoios políticos, o que pode ser suicídio eleitoral. Em reação aos ataques pefelistas, Luizianne Lins acusa o candidato do PFL de ser assessorado por pessoas ligadas à tortura. Ela exibiu ontem dossiês de Organizações Não-Governamentais de Direitos Humanos, como o grupo Tortura Nunca Mais, acusando um dos assessores diretos de Moroni, Edgar Fuques, de ligação direta com torturas. Moroni disse que vai investigar o caso, e que se for calúnia vai processar a petista. Moroni Torgan, que passou o primeiro e segundo turnos explorando a imagem de "candidato independente", tenta agora explorar negativamente o fato de o prefeito Juraci Magalhães (PMDB) e o senador Tasso Jereissati (PSDB) terem declarado que votam em Luizianne Lins. "Se Tasso e Juraci dizem que votam em mim, é porque certamente eles acham que eu sou a melhor opção para Fortaleza", disse ontem a petista, durante o debate. O pefelista alega que conta só com o apoio do povo, e que isso é suficiente para vencer.