Título: Crise política fica de fora em debate com empresários
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Brasil, p. A4

Comércio bilateral, Alca, investimentos, câmbio, juro e subsídios foram assuntos que mobilizaram discussões entre 14 empresários, o ministro Antonio Palocci e o secretário americano do Tesouro, John Snow no "4 encontro do grupo de trabalho para o crescimento", realizado ontem, no Rio. Snow levou dez assessores. Palocci foi acompanhado por Joaquim Levy - que coordenou os debates - Bernard Appy, Murilo Portugal, Luiz Awazu Pereira da Silva e Afonso Bevilácqua, do BC. O embaixador do Brasil nos EUA, Roberto Abdenour, também compareceu. As conversas fluíram durante um café da manhã, mas nenhuma palavra foi dita sobre a avassaladora crise política que sacode o país. "Era como se estivéssemos na Suíça, em plena Copacabana", contou uma fonte ao Valor. O time convidado de CEOs de empresas brasileiras e americanas, incluindo diretores de bancos e donos de consultorias, era de primeira linha. Lá estavam Fersen Lampragno, do GP Investimentos, Gustavo Marin, do Citigroup, Nelio Weiss, da PriceWaterHouse, José Alqueres, da Alstom, Alexandre Silva, da GE, Rogério Silva, da IBM, Otávio Castello Branco, do banco Pátria, Benny Parnes, do BBM, Sérgio Werlang, do Itaú, Carlos Langoni, da consultoria Projeta, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, do grupo Ipiranga e da Firjan, Roger Agnelli, da Companhia Vale do Rio Doce, Maurício Botelho, da Embraer, Carlos Ermírio de Moraes e Thadeu Novaes, da Merck. A discussão se dividiu em três blocos: o primeiro abordava o crescimento global da economia e como isso se refletia na crescimento da infra-estrutura brasileira. O segundo versava sobre aumento de trocas comerciais com os EUA e, o terceiro, sobre inovação tecnológica, incluindo a questão das patentes farmacêuticas. Enquanto os americanos só se manifestavam através de Snow, concordando na prioridade da agenda de comércio, defendendo a Alca e a abertura para a prestação de serviços financeiros de instituições americanas no Brasil, o secretário do Tesouro se disse impressionado com o dinamismo dos empresários brasileiros e não poupou elogios à boa condução da política econômica do governo Lula, destacada no discurso de abertura do encontro por Palocci, que exibiu números da balança comercial, realçando a conquista do compromisso fiscal sólido e crescente nos três anos de governo. Os empresários, por sua vez, tiveram participação ativa na reunião. Os itens mais relevantes das conversas foram a proposta de criação de mecanismo de hedge de longo prazo para proteger investimentos estrangeiros das oscilações do câmbio local; as advertências do representante do Merck para o respeito à lei de patentes pelo Brasil, e a intervenção do presidente da Embraer, chamando a atenção para a concorrência desleal que produtos brasileiros enfrentam por conta dos subsídios às exportações de outros países. "O recado foi dado", comentou um interlocutor brasileiro. No fim, foi marcado um quinto encontro das partes para janeiro, em Washington.