Título: Cafta dá estímulo à retomada da Alca, diz Snow
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Brasil, p. A4

Relações externas Secretário de Tesouro dos EUA afirma que liberalizar o comércio não é uma tarefa fácil

O secretário do Tesouro americano, John Snow, previu ontem que a aprovação do Acordo de Livre Comércio da América Central e Estados Unidos (Cafta, na sigla em inglês), dará "ímpeto" para retomar as negociações da criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Para Snow, o fato de o Cafta ter sido aprovado no fim de julho, por margem de apenas dois votos na Câmara dos Deputados dos EUA, não significa "falta de compromisso (do governo Bush) com a liberalização do comércio". Na avaliação de Snow, o acordo do Cafta também poderá estimular avanços na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "A liberalização do comércio nunca é fácil. Já passamos uma década e meia de liberalização do comércio mundial e minha experiência mostra que os votos no Congresso dos Estados Unidos (sobre o tema) nunca ocorreram com maioria absoluta. É a natureza do comércio", avaliou. Ele lembrou que há poucas coisas que fazem tão bem, mas são tão impopulares quanto o comércio. O comentário de Snow surgiu como resposta a uma pergunta do presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o embaixador José Botafogo Gonçalves, durante evento promovido pela entidade e que tinha o secretário do Tesouro dos EUA como conferencista. "Será possível garantir um compromisso da sociedade americana e de seus líderes, nos setores público e privado, para promover liberdade de comércio real e não com tantas restrições como parece estar contido nas propostas sobre a mesa?", perguntou. Snow afirmou que muitas vezes as pessoas não fazem a conexão entre o comércio e todos os benefícios dele resultantes e aí surgem determinadas oposições. Snow também considerou que a abertura do comércio depende de uma forte liderança, comprometida com o processo, e ponderou que o tema deve avançar, apesar das dificuldades políticas. "Os dois países reconhecem a importância do comércio, apesar das diferentes perspectivas, mas compartilham o compromisso com a abertura comercial", disse. Segundo ele, Brasil e Estados Unidos têm o interesse comum em definir a questão dos subsídios agrícolas na Rodada Doha. O embaixador do Brasil nos EUA, Roberto Abdenur, avaliou que um fator que pode favorecer a retomada das negociações da Alca é a troca de comando no USTR, o representante comercial americano. Abdenur também avaliou que na 4 Cúpula das Américas, programada para novembro, em Mar del Plata, na Argentina, poderá se dar um novo impulso ao processo. Abdenur aproveitou para mandar um recado: "O Brasil considera importante que se lancem, logo que possível no contexto da Alca, as negociações de acesso a mercado entre o Mercosul e os Estados Unidos, no formato 4+1", indicou. Henrique Rzezinski, presidente da seção brasileira do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (Cebeu), disse que os empresários estão confiantes na retomada das negociações da Alca, tema que foi tratado com Snow na IV Reunião do Grupo Brasil-Estados Unidos para o Crescimento. No encontro, ontem pela manhã no Rio, Snow elogiou a política macroeconômica do Brasil e os empresários aproveitaram para falar da necessidade de igualar alguns problemas hoje existentes no comércio mundial, como a assimetria no custo dos financiamentos de crédito à exportação entre países industrializados e países em desenvolvimento, como o Brasil. "A nossa preocupação é ter um campo (de jogo) nivelado em relação às condições financeiras das agências oficiais de crédito à exportação", afirmou Rzezinski. Em entrevista, à tarde, o secretário americano minimizou o problema de a economia brasileira não vir conseguindo crescer continuamente em nível elevado e de não estar conseguindo crescer acima de 5% ao ano. Para ele, a política econômica do Brasil está conduzindo o país para uma rota de crescimento por um longo período. "Não é surpresa que não haja uma linha reta (do crescimento), disse, ressaltando que o mais importante é a manutenção de políticas adequadas. (Colaborou Chico Santos, do Rio)