Título: Secretário-executivo de Ciro se demite
Autor: Henrique Gomes Batista, Sergio Leo e Daniel Rittne
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Política, p. A5

Crise Segundo cargo do Ministério da Integração Nacional é identificado em saque das contas da SMP&B

O depoimento à Polícia Federal de Simone Vasconcelos, gerente financeira da SMP&B e responsável por saques em dinheiro de mais de R$ 7 milhões, e uma lista entregue à procuradoria da República pelo publicitário Marcos Valério, com beneficiários de empréstimos tomados para o PT, em nome dele, levaram à demissão do principal auxiliar do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB), Márcio de Araújo Lacerda. Secretário-executivo do ministério, Lacerda foi apontado como beneficiário de parte dos saques das contas das empresas de Valério. Na nova lista o publicitário afirma ter autorizado 31 pessoas a receber dinheiro de suas empresas. O total retirado já soma R$ 55,8 milhões. A lista de Valério aumenta o número de dirigentes do PT atendidos com recursos saídos das contas do publicitário, inclui deputados do PTB, do PP, e do PL, além da sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar Fernandes da Silveira, que teria recebido R$ 15,5 milhões, e uma das principais fornecedores de brindes eleitorais para o PT, a Focal, cujo diretor comercial, Carlos Cortegoso, teria recebido R$ 400 mil, em dezembro de 2003. Na lista aparece também o deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do ex-presidente do partido, José Genoino. No depoimento à PF, Simone Vasconcelos confirmou, na segunda-feira, que foi contratada por Valério por indicação de Cláudio Mourão, secretário de administração do governo mineiro e coordenador da campanha de reeleição do tucano Eduardo Azeredo, e que trabalhou por dois meses na campanha do então governador. A primeira vítima direta do depoimento de Simone, porém, foi Márcio Lacerda. Antigo militante comunista e empresário no setor de telecomunicações, ele foi um dos maiores doadores para a campanha de Ciro à Presidência da República, em 2002, segundo registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Deu R$ 550 mil como pessoa física e outros R$ 400 mil por meio da Construtel, empresa da qual é sócio. Simone indicou à PF que o secretário foi destinatário de cerca de R$ 1 milhão em saques feitos nas contas do empresário Marcos Valério. Na lista de Valério, Lacerda aparece beneficiado por saques de R$ 457 mil, retirados em abril e junho de 2003. Em carta aberta, Lacerda pediu exoneração do ministério alegando não desejar que "essa suspeição infundada" prejudique o ministério. Ciro aceitou a demissão. Na explicação ao chefe, Lacerda afirma que "a única coisa" que conseguiu apurar sobre a denúncia de Simone diz respeito à união de equipes de Lula e Ciro para o segundo turno presidencial. Nessa junção, a agência New Trade, responsável pelo marketing de Ciro, integrou-se, a convite de Duda Mendonça, à campanha do PT e aliados nos Estados, no segundo turno. "Após a eleição, a New Trade teve dificuldade de receber o pagamento e pediu minha ajuda, o que era natural em função das minhas tarefas em 2002", disse Lacerda. Ele contou que pediu ajuda ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e que os pagamentos teriam sido feitos pela agência de Marcos Valério. A oposição não acredita que Lacerda será a única baixa. "Vamos colocá-la na parede, ela (Simone) terá de nos contar tudo, e não apenas esta lista", afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Ele diz que o envolvimento de tucanos mineiros não intimidará a oposição. "Tudo bem que ela tenha até mesmo trabalhado na campanha de Azeredo; o importante é que não pagou o mensalão para a gente", afirmou.