Título: Meirelles defende a alta da Selic na apresentação de novo diretor do BC
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2004, Finanças, p. C-2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aproveitou ontem a cerimônia de apresentação de um novo membro do Comitê de Política Monetária (Copom) para rebater as críticas que a instituição vem recebendo nas últimas semanas por promover um aperto mais forte na política monetária. "Temos que olhar o médio e longo prazos, e não se ater à paixão do momento", afirmou. Meirelles havia levado um texto pronto para a cerimônia de apresentação do economista Rodrigo Azevedo, que na semana passada já havia sido empossado na diretoria de Política Monetária do BC. Mas acabou por sair do roteiro. "Trabalho e paixão são muitas vezes incompatíveis", filosofou o presidente do BC. "Trabalho gera resultados, mas a paixão - tão importante como motivação para o trabalho - também gera, em alguns momentos, desejos. Infelizmente, uma grande distância separa os resultados dos desejos." Todo esse discurso foi para dizer que o trabalho do BC (isto é, a alta dos juros) miram a estabilidade de preços e o crescimento no longo prazo, enquanto o desejo de segmentos da sociedade se preocupa apenas com o crescimento no curto prazo. "O BC tem que ser responsável com o futuro, responsável em atender os resultados que o Brasil precisa", disse. "É por isso que não nos preocupamos com os resultados, e não necessariamente com as opiniões. Os resultados estão aí para a análise da sociedade brasileira, resultados que permitiram a construção de um país melhor." Meirelles afirmou reconhecer que os desejos da sociedade são "legítimos", mas disse que eles devem ser alcançados no devido tempo. "Sem alicerces firmes , resultado de trabalho firme freqüentemente incompreendido na sua execução, pode-se produzir grandes desordens." Meirelles disse ainda que disse que entre as qualidades de um banqueiro central está "manter a serenidade e o foco no resultado mesmo em meio da tempestade de críticas que de tempos em tempos se abate" sobre si. Rodrigo Azevedo fez um breve discurso elogiando a qualidade técnica do corpo de funcionários do BC. Vários familiares compareceram à cerimônia, e ele se emocionou ao se referir aos filhos que, por serem ainda pequenos, não puderam estar presentes. Após a cerimônia, ele negou que seja um conservador. "Isso é uma questão de rótulos", disse. "O que eu acho é que deve haver um arcabouço consistente de decisão de política monetária."