Título: Alckmin sobe o tom e acusa Lula de perder comando
Autor: Caio Junqueira e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Política, p. A6

O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), aproveitou ontem o palanque da abertura do 5º Congresso Nacional da Força Sindical para fazer um dos seus mais duros ataques ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Vemos um governo que não funciona, um presidente que não comanda", disse Alckmin a uma platéia de cerca de 2,5 mil trabalhadores. "O povo está estarrecido, estupefato com a quantidade de denúncias envolvendo o dinheiro público". O Congresso da Força, que começou ontem em Praia Grande, litoral paulista, transformou-se em uma manifestação de protesto contra o governo federal. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foi vaiado ao dizer que trazia "um abraço do Lula". Foi a primeira participação de Marinho, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), como ministro em evento da Força. Um dos mais aplaudidos no evento, Alckmin fez um discurso de candidato e criticou a política econômica. "Nunca houve tanta liquidez no mundo. O Brasil está perdendo a oportunidade. É o último da fila com os juros mais altos do planeta. Esses juros atraem capital especulativo, o câmbio vai lá para baixo e as exportações têm dificuldade." Apesar do tom eleitoral, Alckmin evitou comentar uma eventual candidatura à Presidência da República em 2006. "Eleição, só no ano que vem. Antecipar processo sucessório não é bom. Encurta governo e dificulta ainda mais a governabilidade. A população não está interessada agora em eleição. No ano que vem o PSDB discute isso". Em entrevista coletiva, Alckmin fez questão de separar as denúncias que envolvem o PT das que relacionam o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG). "É necessário separar dinheiro de campanha de corrupção. Ninguém está acima da lei, mas é preciso agora não desviar o foco da corrupção." Único representante do governo Lula no evento, Luiz Marinho, reconheceu que há uma grave crise no país, mas disse que é preciso valorizar o amadurecimento da sociedade. "Enquanto o Congresso apura, a economia segue crescendo", disse. Marinho ressaltou que a agenda mínima que vem sendo proposta pelos empresários também deve ser um objetivo dos trabalhadores. O presidente da Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também participou do evento e voltou a defender que o Congresso se mobilize para votar alguns temas importantes. "Não podemos aceitar que durante um ano só se fale em CPI." Os discursos dos líderes sindicais e dos partidos foram muito mais duros. "O Brasil está vendo o depoimento do chefe da quadrilha de corrupção, chamado Zé Dirceu, enquanto nós discutimos o futuro do país", disse o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Ele propôs aos trabalhadores que sejam feitas uma série de manifestações contra a corrupção e contra o governo. "Nesse negócio de corrupção, está faltando o povo na rua. Não para pedir o impeachment do Lula, por enquanto, mas que tudo seja apurado, doa a quem doer." Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), também presente na cerimônia, disse que a crise política já chegou ao presidente Lula. "Cada hora as denúncias colocam no centro da crise não uma figura menor como o Delúbio ou até o Dirceu, mas o palácio do Planalto e a presidência da República."