Título: Jefferson acusa ex-ministro de buscar benefícios da Portugal Telecom
Autor: Maria Lúcia Delgado e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Política, p. A7

Ao interrogar o ex-ministro José Dirceu, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) fez mais uma denúncia contra o governo e o PT. Ele disse que, em reunião no Palácio do Planalto, no ano passado, o ex-ministro decidiu enviar emissários do PT e do PTB a Portugal para negociar ajuda financeira aos dois partidos. A ajuda teria sido negociada, de acordo com Jefferson, junto à Portugal Telecom. Antes da viagem, alegou o deputado do PTB, Dirceu teria aproximado o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, promovendo, inclusive, uma audiência entre os dois, em Brasília. O acordo com a Portugal Telecom seria para colocar as finanças do PT e do PTB " em dia " , afirmou Jefferson. " Nossos emissários estiveram na Portugal Telecom nos dias 25 e 26 de janeiro " , sustentou o deputado. " Tratei de assuntos republicanos e não-republicanos no gabinete do ministro José Dirceu " , ironizou. Jefferson insinuou, nesse momento da inquisição a Dirceu, que o presidente Lula poderia saber das negociações políticas supostamente conduzidas pelo então ministro. " Foi um erro acharmos que o senhor é tão poderoso. O senhor não é tão poderoso assim. Não agiu sozinho " , afirmou o deputado. Dirceu negou as acusações. " Nunca tive relação com a Portugal Telecom. É mais uma denúncia para me envolver e atacar a minha honra " , assegurou o ex-ministro da Casa Civil. " Isso é muito grave. É uma insinuação no ar. Não é verdade. O senhor está mentindo " , acrescentou Dirceu. O deputado disse que, quando foi ministro, jamais conversou com executivos da Portugal Telecom, mas, sim, com representantes do grupo Opportunity e da Telecom Itália, sócios da Brasil Telecom. Jefferson não revelou os nomes dos supostos emissários enviados por Dirceu. Ao questionar Dirceu na Comissão de Ética, Fruet informou, citando o blog do jornalista Ricardo Noblat, que os emissários do PT e do PTB, na viagem a Portugal, foram respectivamente o empresário Marcos Valério e Emerson Palmieri. Naquela ocasião, Palmieri era tesoureiro do PTB. Quando esteve em Portugal, Valério teria sido recebido, a pedido de Horta Costa, pelo então ministro de Obras Públicas daquele país, Antônio Mexia. No dia 16, segundo Fruet, o jornal "Expresso", de Lisboa, teria confirmado com Mexia que ele recebeu o suposto emissário do PT a pedido de Horta. Em sua defesa, Dirceu leu nota oficial do Palácio do Planalto, informando que Lula teria tido dois encontros com a cúpula da empresa portuguesa. O primeiro teria ocorrido em 21 de janeiro de 2003, com a presença do então ministro das Comunicações, Miro Teixeira. O segundo contato ocorreu no dia 19 de outubro de 2004, com a participação dos ministros Eunício Oliveira e Luiz Fernando Furlan. Segundo a assessoria da presidência, o encontro foi organizado para que a Portugal Telecom anunciasse ao presidente o seu plano de investimentos no Brasil. Na CPI dos Correios, Valério havia admitido contatos empresariais naquele país e que tinha se reunido com Mexia. Ontem, ele desmentiu que tenha ido a Portugal como emissário de Dirceu. " A Telemig Celular estava à venda e um dos compradores era a Portugal Telecom. E, por acaso, a conta da Telemig pertencia a uma das agências das quais eu era acionista, a DNA e a SMP&B. Vislumbrando que a Telemig poderia ser vendida pela Portugal Telecom, fui tentar um contato com a empresa na presença de seu representante no Brasil. O Palmieri me acompanhou como um amigo e nada mais. Ele falou que estava muito estressado e que ia a Portugal me acompanhando " , disse o empresário em entrevista. " Vamos deixar uma coisa bem clara: não sou representante do PT. " Em nota, a Portugal Telecom negou as declarações de Jefferson. A nota afirma: "O Grupo Portugal Telecom esclarece que nunca teve qualquer conhecimento ou participação com o objetivo de organizar um encontro com representantes do PT e do PTB em Lisboa". A PT divide com a Telefônica o controle da Vivo. Nos últimos meses, esteve presente no noticiário, pois analistas apontaram o interesse do grupo português em comprar participação do Citigroup e fundos de pensão na Brasil Telecom. O presidente da PT, Miguel Horta e Costa, esteve no Brasil em 18 de maio de 2005, 19 de outubro de 2004 e em janeiro de 2003. Em maio veio para o seminário Brasil-Portugal com a presença do ministro Palocci. Não esteve com Lula. Já em outubro de 2004, Horta reuniu-se com Lula. No encontro, foi para comunicar a conclusão de oferta pública de ações de R$ 1,5 bilhão para aumentar a participação acionária da PT e a Telefônica na Vivo. (Colaboraram Daniel Rittner e Thiago Vitale Jayme)