Título: Marcos Valério entrega passaporte ao MP
Autor: Thiago Vitale Jayme e Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Política, p. A8

Crise Gesto de empresário busca facilitar acordo com Ministério Público que visa à redução de pena

O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza formalizou, ontem, o seu pedido de delação premiada junto ao Ministério Público Federal, pelo qual pretende obter redução de pena em troca de colaboração com a Justiça. Valério iniciou o seu depoimento às 14h30 e saiu da Procuradoria às 21h30. Aos procuradores Raquel Branquinho, Alexandre Espinoza e Cláudia Sampaio, o empresário reiterou que os mais de R$ 6 milhões sacados de suas contas para a empresa Guaranhuns Participações tinha como destino o PL. "A empresa representa o PL através do seu Jacinto Lamas e trabalhava para o doutor Valdemar Costa Neto", revelou Valério ao deixar a procuradoria-geral da República. Lamas é tesoureiro do Partido Liberal. A empresa ligada ao PL fora indicada para Valério pelo PT. "A solicitação veio pelo PT. E o depósito era feito a pedido do doutor Jacinto Lamas. A operação era muito simples", completou. Ao chegar à sede do MPF em Brasília, o publicitário negou a existência do mensalão e informou que foi entregar o seu passaporte ao procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, para mostrar que não pensa em fugir do país. Trata-se de uma tentativa de Valério demonstrar boa vontade junto às autoridades e obter o acordo que pode lhe dar redução de pena. Valério negou que o presidente Lula soubesse das movimentações financeiras organizadas por ele e pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. "Em relação ao presidente Lula, eu acredito que ele não teve nenhum conhecimento desses empréstimos. Eu não conversei e nem tive contato com o presidente Lula. É muito séria uma afirmação de que o presidente sabia. É um negócio muito importante para o país, não dá para levar na leviandade", disse. Valério reconheceu que esteve com o ex-ministro-chefe da Casa Civil "duas ou três vezes. Uma vez eu fui levar a diretoria da BMG que estava inaugurando uma fábrica em Luziânia (GO). Na outra, eram diretores do Banco Rural, que investia em mineração na Amazônia". Sobre o pagamento de mensalão a deputados, Valério disse que "não acredito na existência de mensalão". E reiterou a versão do caixa 2 das campanhas. "Todo o dinheiro (movimentado por suas agências) era para despesas de campanhas", completou. Valério negou conhecer Roberto Marques, o assessor do deputado José Dirceu (PT-SP), suspeito de ser um dos sacadores do suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares. "Ouvi falar desse Bob pela imprensa", disse, ao referir-se ao assessor pelo apelido. O empresário disse trazido provas contra todos os sacadores. "Todos os nomes que constam dessas listas têm as devidas comprovações. Tem alguns nomes novos", disse. O publicitário chegou à sede do Ministério Público Federal num Ômega azul blindado, o mesmo carro que levou a funcionária de uma de suas agências, a SMP&B, Simone Vasconcelos para depoimento anteontem à PF. O procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, não participou do depoimento. A CPI dos Correios ingressou, ontem, com um pedido sigiloso ao Supremo Tribunal Federal, segundo um de seus integrantes, para promover busca e apreensão em uma empresa. O pedido está sob segredo de Justiça e foi encaminhado ao ministro Joaquim Barbosa, relator do inquérito do mensalão.