Título: Manutenção de política banca estabilidade
Autor: Sergio Lamucci e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Especial, p. A12
Entrevistas Bolsa e câmbio vão oscilar nas próximas semanas, mas "estragos" serão pequenos, dizem economistas
A crise política vai causar poucos estragos na economia desde que os rumos da política econômica não sejam alterados, avaliam Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), e Dionísio Dias Carneiro, professor da PUC-Rio. Num cenário de liquidez internacional abundante e em que as contas externas e fiscais do país estão mais sólidas, o impacto da turbulência política deve ser mais modesto, embora, como diga Carneiro, seja "inocência" achar que a Bolsa e o câmbio não vão oscilar num momento de incerteza como o atual. Figueiredo diz, por exemplo, que o dólar poderia estar mais próximo de R$ 2,20 do que nos níveis atuais sem a crise. No entanto, afirma ele, a melhora nos fundamentos nos últimos anos foi tão significativa que amortece eventuais pressões sobre o câmbio. Segundo Figueiredo, a sobra de recursos do balanço de pagamentos é de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões por mês, o que permite o aumento das reservas, como fez o BC no início do ano, e a redução da dívida externa de médio e longo prazo, que caiu de US$ 194,7 bilhões em 2003 para US$ 179,6 bilhões em março. "Os fundamentos estão mais sólidos. Isso não é chavão, os números mostram." Somado a isso, o apetite dos investidores estrangeiros pelo risco continua alto. O que então poderia levar à piora dos preços dos ativos brasileiros? "Apenas se a crise gerar uma mudança relevante de política econômica", afirma Figueiredo, sócio da Mauá Investimentos. Para Carneiro, dono da consultoria Galanto, desde o impeachment de Collor o país aprendeu a lidar com os furacões políticos, preservando certa independência em relação à administração da política econômica. "O risco de contaminação da economia viria da interrupção do processo decisório da política econômica com enfraquecimento da figura do ministro Antônio Palocci ou desmoralização do Banco Central", afirma ele. Ele não descarta que a saída de "capitais de arbitragem", que aproveitam a diferença entre os juros externos e internos, leve a um choque inflacionário moderado, devido ao impacto sobre o câmbio. Para Carneiro, o fundamental é cuidar dos procedimentos. "O que garante investimento é manter as regras do jogo." Figueiredo adverte que o prolongamento da crise pode afetar justamente as decisões de investimento, prejudicando a capacidade de crescimento do país. Veja, a seguir, os principais trechos das entrevistas.