Título: Mercado evangélico cresce e atrai capital
Autor: Marília de Camargo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Empresas &, p. B1

Livros A brasileira Editora Mundo Cristão compra a Textus, de Niterói

O movimento de fusões e aquisições que vem sendo observado no mercado editorial está chegando ao segmento evangélico, cujas vendas cresceram expressivamente em 2004: 22,5% em faturamento, totalizando R$ 239 milhões. A segunda maior empresa do ramo, a Editora Mundo Cristão, acaba de anunciar a compra da Editora Textus, de Niterói (RJ), que, com apenas cinco anos de atuação já conta com 80 títulos publicados e conseguiu estabelecer no meio uma reputação de conteúdo e densidade. O valor do negócio não foi revelado, mas é simbólico em um mercado dinâmico e que já desperta o interesse de gigantes como a Thomas Nelson, a número um dos Estados Unidos, com vendas anuais de US$ 250 milhões. Segundos fontes desse setor, a Thomas Nelson tem sondado o mercado brasileiro atrás de uma oportunidade de aquisição. Outras grandes como a americana Tyndale e a alemã Bertelsman estão de olhos bem abertos. Esse maior interesse das grandes empresas pode sinalizar uma tendência à concentração, segundo Whaner Endo, diretor-executivo da Associação de Editores Cristãos (Asec). "O mercado deve crescer outros 22% este ano. O número torna-se mais significativo quando se constata que o mercado editorial como um todo anda estagnado", observa Endo. Nos Estados Unidos, as vendas de bíblias e livros de interesse de cristãos protestantes giram mais de US$ 2 bilhões anuais e cresceram 7% em 2004 em relação a 2003, diz o diretor-presidente da Mundo Cristão, Mark Carpenter, com base em dados da Evangelical Christian Publishers Association. O avanço dos negócios, em média, nos últimos dez anos, foi menor, em torno de 2%, deixando um pouco insatisfeitos os grandes acionistas. "Várias empresas estão flertando com outras editoras e têm visitado o Brasil para prospectar", diz Carpenter. Se para a Mundo Cristão a compra da Textus fortalece um dos mais extensos catálogos de títulos de literatura cristã e teologia, que agora somarão 560, para a Textus, o negócio significa uma maior visibilidade para a marca, que passará a ser um selo da grande editora. "Cresci 60% a 70% nos últimos dois anos mas para crescer mais teria que arrumar um sócio, fazer um aporte de capital ou ir ao banco. Recebi proposta de três editoras e optei pela Mundo Cristão pela qualidade editorial e a ótima rede de distribuição deles", diz Marcos Simas, diretor da Textus, que agora foi contratado pela editora como editor de espiritualidade. A Mundo Cristão publica anualmente cerca de 40 novos títulos, com vendas superiores a 330 mil exemplares, distribuídos através de mais de 700 pontos de venda. Boa parte de seu crescimento é atribuído ao projeto Estação do Livro, que organiza a abertura de pequenas livrarias dentro de 200 igrejas em todo o país. Outra que exibe números quase miraculosos é a Editora Hagnos, com crescimentos de vendas de 100% em 2002, em relação a 2001, 70% em 2003 e 56% em 2004. Com movimento de 18,5 mil exemplares e faturamento mensal estimado em R$ 400 mil, a companhia prevê 40% de expansão para este exercício, segundo a diretora Marilene Terrengui. Parte desse avanço veio com a compra da Editora United Press no fim de 2003. A United Press publicava a série "Deixados para Trás", baseada nas profecias do Apocalipse, que vendeu cerca de 32 milhões de exemplares nos EUA - 50 milhões se consideradas as versões em quadrinhos e para crianças. As vendas desses livros saltaram 60% depois dos atentados de 11 de setembro, em 2001. "Sabemos que logo chegarão mais empresas atrás de novas aquisições no país. Eles virão mesmo, é natural", afirma Marilene. "Quando falo sobre esses números, me chamam de louca", brinca. O maior negócio editorial no campo evangélico ocorreu há dez anos, quando a segunda maior empresa do setor nos EUA, a Zondervan, comprou a Editora Vida, firmando-se como a número um no Brasil. A Zondervan pertence à editora HarperCollins, cujo dono é o empresário Rupert Murdoch, dono da News Corp. A Editora Vida fechou o ano fiscal de 2005, recém-encerrado, com receita recorde de R$ 13,4 milhões - valor 10,3% maior que no exercício anterior. O lucro cresceu 20,6%. O número de lançamentos aumentou de 68 para 77 títulos. O carro-chefe das vendas é "Uma vida com propósitos", de Rick Warren, um verdadeiro fenômeno. Esse livro, segundo o gerente de marketing da Editora Vida, Sergio Pavarini, foi lançado há dois anos e já soma 300 mil exemplares vendidos no país - o equivalente à metade do best-seller "O Código Da Vinci", de Dan Brown, distribuído no Brasil pela Editora Sextante. "Costumamos dizer que não publicamos auto-ajuda, mas ajuda do alto", observa o executivo. Em todo o mundo, o livro de Rick Warren soma 24 milhões de cópias vendidas, um recorde nunca alcançado por um livro cristão. A meta da editora é crescer 15% no próximo ano fiscal.