Título: Cana, a nova aposta de plantio no oeste baiano
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2005, Agronegócios, p. B12

Estratégia Produtores de grãos estão de olho no mercado de álcool

Em plena expansão no Sudeste e no Centro-Oeste do país, a cana-de-açúcar começará a ser plantada neste ano no oeste da Bahia, numa aposta que poderá dar novo fôlego à produção de açúcar e álcool do Nordeste. "As primeiras variedades serão plantadas entre outubro e novembro", adiantou ao Valor João Carlos Jacobsen Rodrigues, vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba). Segundo Jacobsen, estudos recentes mostram que o investimento é viável. "Há áreas adaptáveis à cana, sobretudo próximas à fronteira de Goiás", afirmou. De acordo com o executivo - e produtor de grãos e algodão -, o plantio pode ser feito em sequeiro em tais áreas, que apresentam um regime de chuvas parecido com o do Centro-Sul brasileiro. A Fundação Bahia, de apoio à pesquisa agrícola, também vai começar a fazer pesquisas com variedades de cana específicas para o oeste. "Há usinas interessadas em instalar indústrias na região. Mas é preciso fazer os primeiros plantios", afirmou Jacobsen. A Fundação Bahia tem orçamento anual de R$ 3 milhões para pesquisa. As variedades pioneiras que serão plantadas a partir de outubro são de cana já adaptadas ao Centro-Sul e ao Nordeste. O plantio de cana vai começar em áreas experimentais e depois migrará para áreas de grãos. Conforme Jacobsen, mesmo os produtores de grãos querem apostar na cana por conta das oportunidades do álcool nos mercados interno e externo. "A expectativa é de que a área de cana avance sobre os grãos [soja e milho] e que os grãos migrem para o interior". A área plantada com grãos, café e fruticultura ocupa atualmente 1,5 milhão de hectares no oeste da Bahia, dos quais 900 mil plantados com soja. "Há uma área adicional de 1,5 milhão de hectares que pode ser ocupada com grãos. Por isso, o avanço da cana sobre a área já ocupada com soja não será considerada uma invasão", disse Jacobsen, que também é vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Um outro projeto para expansão da cana na Bahia - desta vez em áreas irrigadas - está sendo coordenado pelo deputado federal João Leão (PL/BA). "Um protocolo de intenções foi assinado com 14 empresas do setor, que estão interessadas em fazer investimentos", disse o deputado. A primeira experiência de cana irrigada deverá acontecer no município de Barra, também no oeste baiano, próximo ao rio Grande. As áreas próximas ao rio São Francisco também estão sendo estudadas. Segundo Leão, os altos custos com a produção irrigada serão compensados pela elevada produtividade. "No Centro-Sul, a produtividade média está em torno de 80 toneladas de cana por hectare. Experiências feitas na região com irrigação elevam a produtividade para 167 toneladas por hectare". Nesse projeto, a proposta é que o governo da Bahia ofereça toda a infra-estrutura, como energia e estradas, e que os plantadores arquem com os custos da produção. Conforme o deputado, a Bahia tem hoje duas usinas de açúcar e álcool em produção. O grupo alagoano Tércio Wanderley já considerou investir no oeste da Bahia. E, segundo Vítor Wanderley Júnior, diretor do grupo, vai acompanhar o desenvolvimento dos canaviais para tomar sua decisão estratégica. Mas o executivo lembrou que os atuais investimentos do grupo estão concentrados em Minas Gerais, com a construção de duas novas usinas. Wanderley Júnior afirmou que duas décadas atrás algumas usinas tentaram fazer investimentos na Bahia, mas foram frustradas pelo clima. Além do clima mais seco no Nordeste, a topografia acidentada também limita o avanço do plantio de cana-de-açúcar.