Título: Severino segura pedidos de cassação
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Política, p. A7

Crise Presidência da Câmara alega que Conselho de Ética não deve ser sobrecarregado por processos

A pretexto de não sobrecarregar o Conselho de Ética, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu segurar os pedidos de abertura de processo de cassação contra oito deputados, entre os quais o que se refere ao ex-ministro José Dirceu. Severino não tem prazo determinado para decidir. Enquanto não remeter os processos de volta ao Conselho, os deputados acusados podem renunciar a fim de evitar a perda dos direitos políticos por oito anos. No início da semana passada, Severino tentou articular um acordo para evitar a punição de deputados. Ele está incomodado com a possibilidade de um grande número de cassação e com a hipótese de as punições atingirem seus colegas de partido, como o líder da bancada, José Janene (PR), o ex-líder Pedro Henry (MT) e Vadão Gomes (SP). Alega, além da solidariedade partidária, que todos foram importantes para sua eleição para a presidência da Casa. Ontem, o PL apresentou pedidos de abertura de processo por quebra de decoro contra seis deputados do PTB. Uma retaliação contra a proposta feita na véspera, pelos trabalhistas, de cassação dos mandatos do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), e do ex-ministro José Dirceu (PT-SP). Quatro deputados foram arrolados por terem disputado as eleições de 2004, cujas campanhas, "segundo o deputado Roberto Jefferson, foram pagas com dinheiro fornecido pelo publicitário Marcos Valério". Nesse caso estão Sandro Matos (RJ), Joaquim Francisco (PE), Alex Canziani (PR) e Neuton Lima (SP). "Melhor fariam se tivessem denunciado os 513 deputados, pois iríamos depurando", ironizou o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE). O pedido contra Francisco Gonçalves (MG) é justificado pelo fato dele haver declarado "que viu mala de dinheiro no plenário da Câmara". O único envolvido com o recebimento de dinheiro de Valério, segundo apuração da CPI dos Correios, é Romeu Queiróz (MG). Nos próximos dias, o PTB pretende protocolar os pedidos para a abertura de processo de cassação dos deputados Janene, Pedro Henry, Vadão Gomes e Carlos Rodrigues (PL-MG). É o que incomoda Severino e os deputados próximos, entre os quais Janene e o segundo-vice presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), um dos mais influentes junto a Severino. No grupo e no Conselho de Ética já se discute a possibilidade de os líderes definirem uma lista de punições. São relacionados: Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto (que já renunciou), Vadão Gomes, José Janene, Carlos Rodrigues e um petista, que poderia ser Paulo Rocha (PA), ex-líder na Câmara e que teria recebido o valor mais elevado, entre os petistas, da conta de Valério: R$ 920 mil. O acordo tentado semana passada para evitar punições fracassou, mas outros pontos discutidos prosperaram, como a manutenção do deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) como relator da CPI do Mensalão, que teve o aval inclusive do governo. O problema é a Comissão de Ética que, segundo avaliação de seus dirigentes, estaria dividida em relação à punição. A postura da presidência da Câmara é que tem levado deputados a retardar eventuais renúncias. Severino também tornou-se um freqüente interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de indicar o novo ministro das Cidades, tomou o café da manhã duas vezes com Lula, nas duas últimas semanas. Anteontem, esteve duas vezes com o presidente. Segundo Severino, Lula pressiona para que a Câmara faça uma agenda positiva e retome as votações. Na conversa de terça-feira passada, ficou acertado que o deputado teria uma reunião nesta semana, com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) para definir a agenda, que, entre outros itens, incluiria as reformas política, tributária, a MP do Bem e a medida provisória que cria supersecretaria da Receita. Severino, por seu turno, reclama que não tem como retomar as votações sem a sustentação dos partidos aliados e do excesso de medidas provisória e, na próxima conversa, deve pedir que a criação da supersecretaria se dê por meio de projeto de lei.