Título: CPI investiga se Lula recomendou Marcos Valério à Portugal Telecom
Autor: Sergio Leo, Thiago Vitale Jayme, Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Política, p. A8

A CPI dos Correios mobilizou-se ontem em função de uma notícia do jornal português "Expresso" publicada há 15 dias. Segundo a notícia, o ex-ministro de Obras Pùblicas de Portugal, Antonio Mexia, afirma ter recebido Valério, no ministério, na qualidade de "consultor do presidente do Brasil, e a pedido de Miguel Horta e Costa", presidente da Portugal Telecom. À noite, o Palácio do Planalto divulgou nota negando "enfaticamente" que Marcos Valério tenha recebido autorização para apresentar-se como "consultor do presidente", o que exigiria, segundo o texto, autorização formal. A embaixada do Brasil está buscando contato com o ex-ministro Mexia para esclarecimentos e "ações judiciais cabíveis". A notícia excitou os parlamentares, que, na véspera, ouviram o deputado Roberto Jefferson acusar o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, de ter determinado a ida de Valério e do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, a Portugal, para negociar com a PT negócios que renderiam dinheiro para aliados do governo. Valério e Palmieri efetivamente foram a Portugal na data anunciada por Jefferson. "Ouvimos que ele teria ido negociar a transferência de recursos do Instituto de Resseguros do Brasil para o Banco Espírito Santo, o que renderia R$ 100 milhões para os partidos; e que também discutiu a compra da Varig pela TAP", comentou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que protocolou um pedido para que Mexias seja ouvido no Brasil. O Banco Espírito Santo, a quem pertence a PT, trava uma batalha pública em Portugal com o jornal "Expresso", do Grupo Balsemão, que já havia publicado notícias sobre irregularidades do grupo, como o acolhimento de depósitos do ex-ditador do Chile, Augusto Pinochet. O BES ordenou que todas as empresas do grupo retirem a publicidade nos órgãos noticiosos do grupo que publica o "Expresso", no início de julho, depois que o jornal publicou nota sobre o envolvimento do banco nas denúncias do mensalão brasileiro. O banco acusou o grupo de publicar informação já desmentida publicamente; o "Expresso" aprofundou, então, a investigação sobre as denúncias, e chegou ao caso da PT, denunciado por Jefferson na comissão de Ética que decidirá sobre seu mandato, ameaçado pela acusação de falta de decoro parlamentar. Na notícia publicada em julho, o "Expresso" cita fontes anônimas da Portugal Telecom, que confirmariam o encontro entre Horta e Valério, e a intermediação da empresa de telefonia no encontro com o então ministro Mexias. A Portugal Telecom admitiu que Marcos Valério foi recebido pelo presidente da operadora, em outubro de 2004. O encontro aconteceu dias após Horta ter estado com o presidente Lula. A audiência em Brasília aconteceu em 19 de outubro. A empresa só confirmou a reunião com Valério após ele próprio ter informado que tinha estado na PT, em Lisboa. Mas a PT, entretanto, não informou quem Valério representava. Disse apenas que o encontro era para tratar assuntos referentes à compra da Telemig. Na nota, a Portugal Telecom assegura que jamais participou de qualquer encontro com o objetivo de discutir ou negociar operações que envolvessem o financiamento de partidos políticos brasileiros. A PT tem interesse na Telemig desde 2003. Negociou por vários meses mas não conseguiu avançar em parte devido ao "imbroglio" envolvendo os acionistas, Citigroup, fundos de pensão e Opportunity. Na nota de ontem a PT nega também "de forma categórica e veemente que tenha mantido reuniões ou qualquer tipo de contato com os senhores Marcos Valério de Souza e Emerson Palmieri nos dias 24, 25 e 26 de janeiro de 2005, em Lisboa", como chegou a ser veiculado. Marcos Valério de Souza divulgou ontem nota em que lamenta que algumas pessoas insistam em usá-lo para se autopromover politicamente. O deputado federal Roberto Jefferson (PTB) é o autor das denúncias que envolvem a Portugal Telecom. Marcos Valério negou "veementemente" que tenha viajado como consultor da Presidência ou de qualquer outro órgão governamental. Ele informou ter visitado no ano passado o então ministro Antonio Mexia, a quem foi apresentado pelo presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa. Valério informou ainda que voltou ao país em janeiro deste ano, acompanhado de Emerson Palmieri, para uma reunião com o presidente da Portugal Telecom. O executivo, entretanto, não pôde recebê-lo por problemas de agenda. A viagem, de acordo com a nota, teve o objetivo de prospectar contas de publicidade porque havia o interesse da Portugal Telecom em adquirir a Telemig Celular, por meio da Vivo. A Telemig Celular é cliente das agências SMP&B e DNA, nas quais o empresário é sócio.