Título: Oposição diz que deixará de preservar Lula
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Política, p. A9

A oposição não engoliu o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que demonstrou ter a convicção de vitória caso enfrente a reeleição. No final da noite de ontem, as principais lideranças oposicionistas ocuparam a tribuna do Senado - já deixado às moscas pelos líderes de governo - e deixaram de lado qualquer diplomacia. "Chega, presidente Lula, de fingir que não tem nada com isso. Chega dessa farsa enorme, em que o presidente não sabe de nada, não tem nada com isso, os ministros não sabem de nada, e tudo recai em cima de apenas dois ex-dirigentes do PT (Delúbio Soares e Silvio Pereira). Não é possível colocar toda a população brasileira como um grupo de idiotas", disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O tucano foi além: "Exigimos que o presidente assuma as responsabilidades de todos os atos que seu governo cometeu, que seu partido cometeu, porque isso é o papel do chefe. Se não tem sequer condições de responder pelos atos de seus ministros, por quem irá falar? Por quem irá responder? O homem público não pode ser covarde. Até hoje, fizemos de tudo para preservar o presidente. Chega de abusar da nossa paciência". Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), Lula aumenta a temperatura política toda a vez em que faz um discurso. "Ele finge que não tem nada com o PT, finge que não tem nada a ver com o governo. Daqui a pouco, presidente, o senhor vai virar líder da oposição", ironizou. "Lula está mostrando com clareza que não tem preparo para governar. É um presidente incapaz de se dirigir com altivez à oposição. Não dirige a nação com um projeto mínimo de governo até 2006", acrescentou. Arthur Virgílio disse que nunca se negou a dialogar em torno de uma agenda propositiva, e espera que Lula interpreta as críticas com "espírito construtivo". A elevação da temperatura político ocorreu um dia após o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), convidar a oposição para a retomada do diálogo. Estiveram no gabinete do petista líderes e parlamentares do PSDB e PFL. "Não sabíamos se teríamos condições de retomar uma linha de equilíbrio no Congresso", disse o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), que estava otimista com os gestos dos governistas pouco antes de tomar conhecimento do discurso de Lula. Desde o início da crise política o PT tem trabalhado com a tese de blindagem do presidente Lula. "Parece estar tarde para insistirem nessa linha, pois estão perdendo a dimensão política e a crise já afetou o governo e o presidente", afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse haver diferença entre "problemas de campanha eleitoral e corrupção". A comparação feita por Alckmin foi por causa do envolvimento do presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, nas investigações da CPI dos Correios. Para Alckmin, a questão que envolve Azeredo é campanha eleitoral. A que envolve o PT e os congressistas aliados de Lula é "corrupção e malversação de dinheiro público". (Com agências noticiosas)