Título: "Com ódio ou sem ódio, vão ter que me engolir outra vez"
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Política, p. A9

Crise MST e da Contag dizem que vão as ruas pela reeleição do presidente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem, durante o lançamento do Plano Safra 2005/2006, em Pernambuco, claro discurso de candidato à reeleição. "Se querem respeito, me respeitem. Não devo minha eleição com favor de ninguém. Devo minha eleição ao povo deste País a quem prestarei contas no momento certo. Se eu for candidato, com ódio ou sem ódio vão ter que me engolir outra vez", afirmou Lula. No discurso, um dos mais contundentes desde que estouraram as denúncias de corrupção em seu governo, Lula também defendeu a punição para aqueles que tiverem culpa comprovada e solicitou que a imprensa pedisse desculpas para aqueles que tiveram seus nomes envolvidos e acabarem inocentados ao fim das investigações. Embora dizendo que somente anunciará se será candidato à reeleição em 2006 "no momento certo", o presidente discursou como se já fosse candidato. "Já li nos jornais que alguns dizem que é preciso fazer o Lula sangrar para ele chegar fraco em 2006. Outros dizem que seria bom que não tivesse reeleição. Não fui eu quem fez as regras. Agora dizem que não posso concorrer. Por quê? Por medo de comprovar que eu fiz mais do que eles em apenas quatro anos?", questionou. A multidão, avaliada pela Polícia Militar de Pernambuco em cerca de 8 mil pessoas, aplaudiu entusiasticamente . O apoio de parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) também foi garantido. Um dos coordenadores nacionais do MST, Jaime Amorim, disse que embora o movimento discorde da política econômica, o movimento tem um compromisso histórico que será mantido. "Temos o compromisso de não deixar descambar (o governo Lula) água abaixo porque as elites tentam impedir que este processo continue. Temos a bandeira da ética, contra a corrupção e da reforma agrária. Não vamos deixar esta bandeira ser inviabilizada pelas elites. Esta bandeira é nossa e não deles. Se for preciso vamos às ruas defender esta bandeira", afirmou. O Presidente da Contag, Manoel Santos, foi além e disse que "não vamos para as ruas. Já estamos nas ruas para defender o nosso presidente", declarou. As manifestações de apoio animaram o presidente que afirmou mais uma vez a necessidade de punir os culpados envolvidos nos escândalos de corrupção e sobre a possibilidade de disputar um segundo mandato. Sobre a crise política, o presidente reconheceu a situação. "Todo dia é uma denúncia aqui e outra acolá. Mas, até agora, não tem resultado da CPI. Vamos aguardar". Ele também pediu punição para aqueles em que o envolvimento nas denúncias for comprovado. "Só espero que os culpados sejam entregues ao Ministério Público para serem processados. Quem deve pagar vai pagar. Católico, evangélico, PMDB, PT, não tem cor, não tem raça, não tem sexo, não tem ideologia", afirmou. Lula esteve em Garanhuns, no Agreste , para o lançamento do Plano Safra que conta com recursos de R$ 9 bilhões para financiar a agricultura familiar. Ele também inaugurou o campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) naquele cidade. Acompanharam-no os ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e Fernando Haddad (Educação). O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) foi vaiado todas as vezes em que seu nome foi citado. Ao todo foram dez vaias ao longo do tempo em que Lula esteve em Pernambuco.