Título: Diretora sentia-se desconfortável ao fazer saques
Autor: Daniel Rittner e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Política, p. A10

Ir até o banco para recolher um pacote de dinheiro e depois distribuir milhões de reais a pessoas desconhecidas não é uma tarefa simples. "Quando eu chegava à agência, eu tinha a impressão de que até o guarda sabia que eu tinha ido lá buscar dinheiro", disse ontem a diretora financeira da SMP&B, Simone Reis Lobo de Vasconcelos, no depoimento à CPI dos Correios. Conforme contou aos parlamentares, Simone sentia-se desconfortável ao fazer isso e procurava ficar o menor tempo possível na agência do Banco Rural onde distribuía o dinheiro arrecadado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. "Era uma atividade perigosa", afirmou. "Não tinha noção da ilicitude, como não tenho hoje, mas eu me sentia incomodada." Ela tomava alguns cuidados. Quando sua missão era entregar o dinheiro a mais de uma pessoa, combinava horários diferentes para evitar que os vários beneficiários se encontrassem na agência ao mesmo tempo. Quando achava que estavam demorando e não queria mais esperar, anotava num papel os nomes das pessoas que deveriam pegar o dinheiro e ia embora. Parece um comportamento descuidado, mas era uma sugestão dos próprios funcionários da agência e ela confiava no Rural. "Os funcionários do banco já conheciam essas pessoas", disse Simone. Ela tinha à disposição uma sala para entregar os pacotes. Tudo era muito rápido. Simone disse à CPI que nunca parou para conversar com as pessoas que iam buscar o dinheiro. A diretora da SMP&B procurou se apresentar como uma funcionária que se limitava a cumprir ordens sem discuti-las. "O que fiz foi por determinação do meu patrão", disse. "Eu não tinha que me preocupar com isso", afirmou, quando lhe perguntaram se nunca teve curiosidade sobre o destino do dinheiro que distribuía e as pessoas que apareciam para buscá-lo. Ela sabia que eram "acertos de campanha", mas disse que não tinha informações sobre as pessoas indicadas por Valério nem guardava registros detalhados dessa atividade. "O Marcos me passava os dados e eu simplesmente fazia o repasse", explicou. "Eu não ia adiante, até porque ele não me dava essa abertura." Simone foi contratada pela SMP&B no início de 1999. Ela trabalhava no governo de Minas Gerais e se licenciou do cargo que ocupava porque achou que ficaria sem função com a substituição de Eduardo Azeredo (PSDB) pelo recém-eleito Itamar Franco (PMDB). Simone afirmou que o trabalho na agência, onde ganha R$ 13 mil por mês, tem sido muito recompensador. "Sou muito grata ao meu emprego e ao Marcos Valério", disse.