Título: Simone e Valério divergem sobre Dirceu
Autor: Daniel Rittner e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Política, p. A10

Crise Empresário diz que ex-ministro reuniu-se com bancos

O empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza indicou à Procuradoria-Geral da República que o ex-ministro e deputado José Dirceu sabia dos empréstimos ao PT e participou das negociações para obtenção dos recursos juntos ao bancos Rural e BMG. Em novo depoimento aos procuradores, prestado na terça-feira, Valério afirmou ter sido informado pelo ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares sobre reuniões de Dirceu com diretores das duas instituições financeiras, supostamente para tratar do assunto. Essa versão contradiz as informações dadas pelo ex-ministro da Casa Civil e agora deputado ao Conselho de Ética da Câmara, no qual ele negou ter tomado conhecimento ou participado das negociações para o empréstimo. Segundo Valério, as reuniões teriam acontecido no Hotel Ourominas (com a diretoria do Rural) e em Brasília (BMG). O empresário disse ainda que acompanhou diretores dos dois bancos em audiências oficiais com Dirceu, no primeiro semestre de 2003. De acordo com o depoimento, ele teria tido três encontros com o ex-ministro na Casa Civil. Valério pediu aos procuradores o benefício da "delação premiada", com redução das penas em eventuais condenações caso ajude na investigação. Anteontem, no Conselho de Ética, Dirceu garantiu não ter nenhum relacionamento pessoal com Valério. O empresário, no entanto, disse à Procuradoria que foi procurado por Sílvio Pereira para resolver a situação de um problema pessoal da ex-esposa de Dirceu, Ângela Saragoça. Ele se referia à contratação de Ângela no BMG e ao empréstimo que ela obteve junto ao Rural para a compra de um apartamento. A diretora financeira da SMP&B Comunicação, Simone Vasconcelos, assumiu ontem, em depoimento à CPI dos Correios, que realizou saques de R$ 7,7 milhões e entregou o dinheiro a políticos da base aliada do governo, Simone inocentou o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP), o ex-presidente da sigla José Genoino e o ex-secretário-geral Silvio Pereira. "Somente Delúbio sabia dos empréstimos que a SMP&B e a Graffiti fizeram para o PT", contradisse Simone, em depoimento sempre marcado por um tom arrogante e evasivo. Logo no início, o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), precisou interromper as repetidas sugestões de perguntas dadas aos parlamentares pela executiva. "Deixa que eu mesmo sei conduzir o interrogatório", advertiu Serraglio, claramente incomodado com as ingerências. Simone confirmou que participou ativamente de todo o processo de obtenção dos empréstimos de recursos posteriormente repassados ao PT. Questionada por parlamentares da CPI se está arrependida ou tem sofrido, ela fez uma mea-culpa: "Fico chateada comigo mesma de à época não ter sido mais firme e feito diferente". Ela disse que realizou os saques milionários em 2003. "Umas 20 ou 30 vezes", estimou. Afirmou que nunca recebeu recibos pela distribuição do dinheiro. "Recebia a ordem de Marcos Valério", garantiu. Simone reconheceu a existência de duas listas de sacadores: uma com 12 nomes, em seu poder; e a mais completa, de 31 nomes, de Valério. Ela afirmou ainda que parou de realizar os saques em 2004. "A partir de então, os saques corriam através de corretoras ou com autorização direta dos sacadores." Uma dessas corretoras, a Bônus-Baval, foi indicada por Delúbio para receber os recursos destinados ao PT, segundo Simone. No total, ela recebeu pouco mais de R$ 3,5 milhões. O PL apontou a Garanhuns Empreendimentos, acrescentou Valério em seu depoimento. Para justificar a saída de recursos à Garanhuns, foi firmado um contrato entre a empresa e a SMP&B. A oposição concentrou seus ataques no novo presidente do PT, Tarso Genro. Segundo o depoimento de Valério, os petistas Paulo Antônio Bassoto e Jorge (sem sobrenome identificado), foram a Belo Horizonte receber R$ 1,2 milhão a mando do PT do Rio Grande do Sul. O dinheiro teria sido transferido ao ex-secretário estadual de finanças do partido Marcelino Pies. Bassoto também atuou como tesoureiro da campanha de Genro ao governo do Estado. Em nota assinada por Pies, o PT gaúcho refutou as acusações. "No início de 2003, enquanto estava interinamente exercendo a função de Secretário de Finanças, fui designado pela direção estadual do PT/RS para buscar junto à direção nacional recursos para quitação das dívidas do partido. Pelo que me consta, não existiram movimentações financeiras envolvendo as empresas do Sr. Marcos Valério referentes ao Diretório Regional do partido", afirma o documento. O novo presidente do PT também rebateu as acusações. "Estes recursos para o RS foram para o tesoureiro do partido, portanto, à direção do partido, não para a campanha", destacou.