Título: Banrisul entra na lista das instituições financeiras investigadas pela CPI
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Especial, p. A14

O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) entrou na lista de instituições financeiras investigadas pela CPI dos Correios. Dados levantados pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) revelam que a empresa uruguaia Esfort Trading, dona de 99,9% do capital social da Garanhuns Empreendimentos, remeteu US$ 1,1 milhão a uma agência bancária do Banrisul nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal no Caribe. A Garanhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações aparece como sacadora de R$ 6,037 milhões das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural. Segundo o último depoimento de Valério à Procuradoria-Geral da República, prestado na terça-feira, a Garanhuns foi indicada pelo trio Delúbio Soares, Valdemar Costa Neto e Jacinto Lamas (ex-tesoureiro do PL) como destinatária de parte dos recursos ao partido governista. A Esfort Trading é uma offshore registrada no Uruguai, país que protege o sigilo dos investidores. O brasileiro José Carlos Batista é dono do 0,1% restante da Garanhuns, apontada pela diretora financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, como empresa do ex-deputado Valdemar (PL-SP), que renunciou ao mandato na segunda-feira. Por isso, os parlamentares desconfiam de que se trate de uma empresa estabelecida para lavar dinheiro. De acordo com os documentos obtidos por Álvaro Dias, a primeira grande remessa de recursos feita pela Esfort aconteceu em março de 2002. De Montevidéu, os recursos foram enviados para o Citibank de Nova York, usando a subconta de codinome "Chello", da Beacon Hill, conta usada por doleiros brasileiros para um mega-esquema de lavagem de dinheiro investigado pela CPI do Banestado. Na ocasião, a Esfort remeteu US$ 1 milhão à Beacon Hill. De lá, o dinheiro foi transferido para uma conta do Banrisul nas Ilhas Cayman. Sete meses depois e apenas quatro dias após o segundo turno das eleições presidenciais de 2002, em 1 de novembro daquele ano, o dinheiro percorreu caminho inverso e foi parar novamente na conta da Esfort Trading em Montevidéu. Além dessa primeira remessa, a offshore uruguaia mandou outros US$ 100 mil ao Banrisul de Cayman, por meio de uma conta no MTB Bank em Nova York. Essa transferência ocorreu em 4 de junho de 2003. Segundo Dias, as duas contas utilizadas pela Esfort nos Estados Unidos foram fechadas por autoridades americanas. "Em um primeiro momento, o Banrisul não pode ser responsabilizado, mas o fato é que houve evasão de divisas nos repasses [de Valério] em pelo menos duas oportunidades", afirmou o senador Dias. Para ele, essas remessas são "só o que já conseguimos identificar" e dão indícios de sonegação fiscal, uma vez que tal tipo de transação tem como objetivo escapar da declaração à Receita Federal. Dias apresentou um requerimento à CPI pedindo ao Banrisul a transferência de movimentações financeiras da Esfort Trading em Cayman. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) também se mobilizou e fez um pedido de esclarecimentos ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre as atividades do Banrisul em paraísos fiscais e os controles exercidos pela autoridade monetária. A bancada da oposição na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul deve entrar na apuração das denúncias.