Título: Postura do presidente do STF provoca indagações entre os parlamentares
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2005, Brasil, p. A6

Há uma preocupação silenciosa rondando a CPI Mista dos Correios com a possibilidade de atuações políticas reduzirem a celeridade das investigações. Dois fatos intrigaram parlamentares da comissão e o corpo técnico envolvido nas investigações. A Procuradoria Geral da República alegava que não tinha razões plausíveis para pedir a prisão preventiva do empresário Marcos Valério de Souza. Foi preciso a CPI solicitar que a Polícia Federal de Minas Gerais enviasse, rapidamente, os autos de apreensão de documentos em Belo Horizonte comprovando a tentativa de incineração e destruição de notas fiscais e outros registros das empresas SMP&B e DNA Propaganda. Ou seja, o investigado pode sim estar destruindo provas. A outra inquietação reside na atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao enviar os documentos apreendidos no Banco Rural e empresas de Valério em Minas para o Congresso, na semana passada, o presidente do Supremo, Nelson Jobim, incluiu a seguinte frase na petição: "Atenha-se a Polícia Federal à realização, exclusivamente, das diligências requeridas e deferidas". A recomendação soou como uma espécie de cerceamento das investigações, até mesmo para a própria Polícia Federal. No entanto, a investigação caminha na mesma velocidade, sem restrições até o momento, garantiram os policiais federais a parlamentares da comissão. A postura de Nelson Jobim tem provocado indagações no meio político. O presidente do Supremo é um provável candidato à presidência da República pelo PMDB, em 2006. Em conversas com políticos, Jobim tem se posicionado contra qualquer tentativa de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois levaria o país a um clima de radicalização social e ingovernabilidade. Como é o Supremo que julgará qualquer envolvimento de parlamentares nas irregularidades apuradas e é também à Corte Suprema que caberá uma eventual análise sobre o comportamento do presidente da República, não é de bom tom tal postura do presidente da instituição, analisaram integrantes da CPI. A atuação política de Jobim abriu espaços até para questionamentos sobre os documentos do Rural enviados pelo Supremo à CPI na semana passada. Os parlamentares esperavam uma documentação bombástica, que pudesse revelar nomes expoentes da política nacional que estariam envolvidos no capilar esquema de saques de recursos das contas empresas de Marcos Valério, seja para caixa 2 de campanhas eleitorais ou outras razões ainda não transparentes - como o mensalão. "Será que algo se perdeu da Praça dos Três Poderes até aqui?", indagou um parlamentar da CPI. Apesar das ilações, o comando da CPI já se certificou que nada sumiu ao percorrer esses poucos metros. A única dúvida é se alguns documentos foram retirados no próprio Banco Rural, na capital mineira, antes da apreensão. A direção do Rural também assegura que não. A dúvida soava tão procedente que a própria Polícia Federal conferiu com o ex-tesoureiro do Rural José Francisco de Almeida Rego se o material que chegou a Brasília é o mesmo que saiu do banco em Belo Horizonte. Ele garantiu que sim. Os documentos, dizem alguns parlamentares, vão levar a novas descobertas. Basta ter paciência para analisar os 40 volumes de documentação, cruzar dados e identificar nomes que, aparentemente, não têm nenhuma relação com políticos ou grandes empresas. "As coisas estão aparecendo", garante um parlamentar.