Título: Com recuperação da economia, Japão se volta para reformas
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2005, Internacional, p. A9

Ásia Com o menor desemprego em 7 anos e produção em alta, governo busca privatizar e atacar a dívida

Após anos de oscilação entre recessões e recuperações breves, o Japão pode estar entrando num período de crescimento sustentado. É o que sugere dados recentes divulgados pelo governo. Com esse cenário favorável, o país busca acelerar reformas estruturais que são consideradas vitais para que a retomada. Analistas alertam, porém, que o Japão precisa lidar rapidamente com a galopante dívida pública, que já superou 150% do PIB. O desemprego caiu em junho para o menor patamar desde 1999. Foi o 25º mês sem elevação da taxa. O índice de desemprego baixou 0,2 ponto, para 4,2%. Outro dado divulgada na sexta mostra que a produção industrial cresceu 1,5% em junho, em comparação com o mês anterior, puxada por componentes eletrônicos para telefones celulares, computadores e videogames. Esses números superaram as previsões do mercado. Junto com outros dados, sugerem uma produção sustentada e razoável. O gasto com consumo não cresceu na mesma medida, mas sugere que uma recuperação, puxada pelo consumo doméstico, está gradativamente se solidificando. Os economistas estão animados com o fato de que a atividade econômica mostra uma recuperação neste trimestre, depois de ter estado tecnicamente em recessão no final do ano passado. Isso aconteceu apesar de as exportações terem, até recentemente, permanecido estáveis. Estão surgindo evidências de que um aperto no mercado de trabalho está finalmente repercutindo em aumentos salariais e consumo, numa tendência que pode, pouco a pouco, livrar o Japão da dependência das exportações para crescer. O Banco do Japão (BC) espera também que em 2006 o país saia definitivamente da espiral deflacionária que assombra a economia a mais de uma década. Esse cenário favorável fez o governo retomar a agenda de reformas estruturais, tendo em primeiro lugar a privatização dos Correios. O Parlamento analisa nos próximos 15 dias o projeto de privatização e, apesar da grande oposição, espera-se que o premiê Junichiro Koizumi jogue pesado para conseguir a aprovação da medida. O Correio do Japão, além de cuidar da correspondência, administram contas de poupança e de seguros de vida que ultrapassam US$ 3 trilhões. A controversa lei de privatização, que deve ser votada este mês, foi classificada pelo governo de "primeiro passo" num conjunto de reformas para diminuir o ralo dos gastos públicos. Agora, no momento em que o risco de uma recaída recessiva se esvanece, o governo parece fortalecido para ajustar suas finanças e atacar as falhas de competitividade de sua economia. Segundo analistas, a principal reforma no horizonte seria a da Previdência, que deve ser problemática. Atualmente, os japoneses têm de escolher entre aderir ao sistema público ou o privado. Os críticos do sistema público afirmam que o atual modelo previdenciário desestimula a adesão à Previdência privada, limitando as forças de mercado, desestimulando a inovação e reduzindo as alternativas de financiamento. De qualquer maneira, as perspectivas da economia já melhoraram nos últimos dias. O Nikko Citigroup prevê um crescimento real do Japão de 2% para o ano fiscal que vai até abril de 2006, contra 1,9% no último.