Título: Ameaça de falta de álcool no país preocupa o governo
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2004, Agronegócios, p. B-10

Com menos de 20% da safra de cana do Centro-Sul - estimada em 330 milhões de toneladas - para ser moída, os rumores sobre ameaça de desabastecimento de álcool durante a entressafra, de janeiro a abril de 2005, voltaram a preocupar o governo federal e deixaram o mercado apreensivo. Na noite de segunda-feira, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, reuniu-se com o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo de Carvalho, e empresários do setor, a pedido da própria Unica, para discutir o aumento do financiamento de crédito rural para as usinas do setor, hoje limitado a R$ 10 milhões (pessoa jurídica). Durante a reunião, entretanto, o álcool virou assunto principal. Fontes do setor e do governo afirmaram ao Valor que o ministro teme um cenário de desabastecimento para o álcool, assim como ocorreu no fim da safra 2002/03. "O ministro já fez várias ameaças veladas de que poderia impor taxas de exportação para açúcar e álcool, se as usinas não garantissem o abastecimento", afirmou uma fonte do setor. O governo também descarta reduzir a mistura de álcool na gasolina, atualmente em 25%, informou uma fonte do governo. Carvalho negou ao Valor que exista um pesado clima de cobrança por parte do governo. De acordo com levantamento da Unica, na primeira quinzena de outubro o rendimento da cana para álcool aumentou 16%, de 42 litros de álcool por tonelada de cana, para 49 litros. Segundo o executivo, não haverá problema de desabastecimento na região. Carvalho rebateu as informações do mercado, que indicam que o Brasil poderia importar álcool dos Estados Unidos durante a entressafra. O executivo observou, contudo, que o setor e o governo precisam discutir instrumentos para garantir um estoque regulador de álcool, uma vez que as exportações batem recordes atrás de recordes e a demanda aumenta no mercado interno. A produção nacional do combustível está estimada em 15,4 bilhões de litros, com exportações de até 2,4 bilhões, segundo estimativas do setor. Para Carvalho, o abastecimento de álcool também é reforçado pela boa remuneração do produto. Os atuais preços estão mais remuneradores que o do açúcar. Dados da Job Economia mostrou que o álcool anidro está pagando 26% mais que o açúcar no mercado interno. O tipo hidratado paga 15% mais.