Título: Crise política volta ao foco principal
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2005, Finanças, p. C2

Nenhum evento econômico ou indicador, daqui ou de fora, irá esta semana sobrepujar em importância para os rumos dos mercados financeiros o embate entre os deputados José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) a ser travado amanhã na Conselho de Ética da Câmara. O ex-ministro da Casa Civil irá na condição de depoente. E o homem-bomba na de investigado. O que preocupa o mercado é a informação de que o deputado carioca está disposto a apresentar novas evidências da prática do que chamou de " mensalão " e, para tanto, não seria possível evitar o envolvimento do presidente Lula no caso. Os sinais são de que Jefferson não está disposto a celebrar o pacto da governabilidade: levar as investigações até o fim, mas sem dramaticidade que impeça o governo de governar, o Congresso de legislar e os empresários de investir na produção. O acordo visa a permitir a Lula levar o seu governo até o fim.

O mercado financeiro recebeu muito bem o acordão da governabilidade. Não interessa a ele o impeachment de Lula, pois o vice José Alencar pode, no exercício da Presidência, dinamitar os pilares novo-clássicos da atual política econômica e colocar no lugar um conjunto de medidas desenvolvimentistas. É melhor um Lula enfraquecido, mas conservador, do que um Alencar disposto a mostrar serviço para 2006. O mercado quer um final de governo sem que se mexa em nada do que interessa: juro alto, elevado superávit fiscal e câmbio flutuante. Justamente tudo o que contraria os postulados desenvolvimentistas.

O mercado teme não poder mais festejar juro real projetado para 12 meses de 12,5%, câmbio abaixo de R$ 2,40 e números fiscais como os divulgados na sexta-feira. Nos primeiros seis meses do ano, o superávit primário consolidado atingiu R$ 59,95 bilhões, o melhor primeiro semestre da série histórica iniciada em 1991. O saldo foi equivalente a 6,43% do PIB, mesmo assim não deu para pagar a conta de juros (R$ 80 bilhões). Este ano, o governo Lula está, sem o FMI, mais ortodoxo que em 2004. No primeiro semestre do ano passado, a economia foi de R$ 46,183 bilhões (5,56% do PIB).

Último dia útil do mês, de vencimento em mercados futuros, a sexta-feira foi dedicada a operações internas. As instituições procuraram não dar ouvidos a rumores. Mas enquanto o dólar tombava unicamente em conseqüência das armações especulativas destinadas a deprimir a taxa oficial de câmbio de encerramento de julho, os juros subiram no pregão de DI futuro da BM & F. O dólar fechou cotado a R$ 2,38, baixa de 1,12%, mas hoje deve subir, por cautela à acareação entre Dirceu e Jefferson. Apesar da queda de 0,75% acumulada na semana passada, no mês o dólar valorizou-se 1,97%. O DI futuro, com liquidez apertada, mostrou ajustes para cima. Para a virada do ano o contrato subiu de 19,08% para 19,11%. O pregão embute aposta de corte da Selic de 0,25 ponto em setembro e repetição da dose em outubro. Agosto, manutenção da taxa. A Bovespa aproveitou as baixas ocorridas em Nova York (Dow Jones recuou 0,60% e o Nasdaq 0,61%) para realizar os lucros do mês. Caiu 0,10%, acumulando em julho ganho de 3,96%. A semana passada foi a terceira seguida de alta. Neste período, a Bovespa avançou 6,63%.