Título: Estrangeiros ampliam suas apostas nos juros em reais
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2005, Finanças, p. C3

Mercado Futuro Posições vendidas em dólar têm queda de US$ 1,25 bi

O investidor externo aproveitou a turbulência nos mercados do início da semana passada para ampliar suas apostas nas taxas de juros em reais, ganhando com a posterior queda. Mas reduziu posições vendidas em dólar versus o real no mercado futuro. Segundo levantamento feito pelo Valor dos contratos em aberto na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), as posições líquidas compradas em contratos de DI (Depósitos Interfinanceiros) do investidor estrangeiro institucional cresceram de 762.462 no dia 21, quando a crise política ainda não tinha chegado com força aos mercados, para 929.284 no dia 28, último dado disponível. O aumento no período de cinco dias úteis foi de 22%. "O investidor externo está mais otimista com o país do que o nacional e viu na puxada dos juros uma oportunidade para aplicar", diz Landulfo Profile, chefe de vendas e trade da Boston DTVM, a primeira corretora a obter autorização das autoridades americanas para atuar com investidores americanos na BM&F. Na segunda-feira passada, o contrato de juros futuros mais negociado, de janeiro de 07, teve alta de taxas de 17,843% ao ano para 18,108%. O investidor externo aproveitou e comprou mais, ganhando com a queda nas taxas para 17,94% ao ano na sexta-feira. Todos os contratos mais longos, justamente os mais usados pelo estrangeiro, tiveram comportamento semelhante. Na comparação com o dia 3 de junho, um dia útil antes de a "Folha de S. Paulo" publicar a entrevista com o deputado Roberto Jefferson que deu início à crise política, o aumento nas posições compradas em DI futuro foi de mais de 41%. Em relação a 30 de julho do ano passado, a alta chega a mais de 178%. Alguns fundos estrangeiros externos mais avessos a risco, no entanto, se assustaram com a volatilidade do mercado e liquidaram posições na semana passada, lembra Profile. Isso ficou refletido no mercado futuro de dólar, onde as posições líquidas vendidas do estrangeiro foram reduzidas drasticamente do dia 21 até o dia 28. Em cinco dias úteis, a queda foi no equivalente a US$ 558,7 milhões -de 19.222 contratos para 8.048 contratos, uma redução de 58%. Na comparação com o dia 3 de junho, antes da crise política, a queda nas posições líquidas vendidas em dólar dos estrangeiros foi ainda maior, de 75,7%, o equivalente a US$ 1,25 bilhão. Em 3 de junho, os investidores externos tinham posições líquidas vendidas de 33.100 contratos. O movimento acontece apesar de a depreciação do real -para o pico de R$ 2,5140 por dólar na terça-feira pela manhã- ter sido vista por muitos investidores externos como uma excelente oportunidade de compra. "Outros preferiram realizar lucros e ficar fora do mercado por enquanto", comenta Profile. Além da crise política, a alta nas taxas de juros dos títulos do Tesouro americano assusta -foi de 0,30 pontos em julho, a maior desde abril de 2004. No mês, os papéis de dez anos passaram dos juros de 3,92% para ao ano para 4,29%. E a expectativa é de maiores puxadas nesta semana. A Lehman Brothers, por exemplo, reduziu suas posições compradas na moeda brasileira em dois terços há cerca de três semanas em sua carteira modelo. E recomenda manter essas mesmas as posições menores hoje. A razão: o apetite por risco pode se reduzir em um ambiente de juros em alta nos Estados Unidos. O analista da Lehman Brothers, John Welch, diz que as posições compradas em reais se justificam, pois as altas taxas de juros brasileiras e um superávit comercial de cerca de US$ 4 bilhões por mês manterão o suporte à moeda. Ele destaca em relatório que a alta de juros no mercado futuro do Brasil tornou atrativo apostar nas taxas prefixadas novamente. Recomenda os contratos de vencimento em abril de 2006 e, para uma maior liquidez, os de janeiro de 2007. Muitos estrangeiros não entram na BM&F para comprar reais no mercado futuro -usam, no exterior, os contratos de ndfs (non-deriverable forward).