Título: Estabilidade marca indústria em julho
Autor: Sergio Lamucci e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Atividade se acomoda após crescer forte no mês anterior

Depois da melhora do desempenho da atividade em maio e junho em boa parte da economia, empresários e analistas traçam um quadro de acomodação do ritmo de crescimento em julho. Segmentos da indústria como o químico e o de embalagens apontam uma demanda mais fraca no mercado interno, principalmente devido aos juros elevados. As exportações, por sua vez, continuam a garantir um bom desempenho para uma parte significativa da indústria, apesar do câmbio valorizado. Para o segundo semestre, a expectativa é razoavelmente positiva, devido à aposta na queda dos juros. O que pode atrapalhar um pouco é a crise política: se a incerteza continuar por muito tempo, decisões de investimento tendem a ser adiadas. O presidente da distribuidora de aços planos Rio Negro, Carlos Loureiro, diz que as vendas em julho ficaram praticamente estáveis em relação a junho, quando atingiram 192 mil toneladas. Se repetido esse número, a queda em relação a julho do ano passado será expressiva, de 16%. Ele acredita que os estoques de aços planos caíram nos dois últimos meses para algo como 683 mil toneladas, depois de atingir 722 mil em maio. A desova de estoques ajuda a explicar o mau desempenho em relação a 2004. Além disso, segmentos importantes para as empresas de aço mostram um resultado fraco, como o de máquinas agrícolas e construção civil, afirma ele. A queda dos juros deve dar algum estímulo às vendas no segundo semestre, avalia Loureiro, embora afirme que a indústria automobilística, um dos principais compradores de aço, tende a se acomodar daqui para a frente, depois do desempenho excepcional registrado neste ano. Em julho, a produção de veículos caiu 2% em relação a junho, em termos dessazonalizados. A produção de aço entrou numa trajetória cadente no primeiro semestre. Para interlocutores próximos do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), as expectativas para o segundo semestre não são muito otimistas. As projeções para julho são de empate com a produção de julho, de 2,5 milhões de toneladas de aço bruto, a menor do ano. O presidente do Conselho do Sindipeças, Paulo Butori, acredita que o desempenho do setor em julho foi semelhante ao de junho. Para ele, a queda apontada na indústria automobilística foi compensada pelo aumento das vendas de autopeças para reposição. No primeiro semestre, o faturamento do setor de autopeças aumentou 8,8% ante o mesmo período de 2004. As exportações foram muito fortes no período, aumentando 32%, para US$ 3,5 bilhões. Butori diz que o câmbio valorizado reduz as margens das companhias nas vendas externas, que continuam a ser feitas porque os contratos foram fechados há muitos meses. Se o dólar continuar tão barato, adverte ele, as exportações vão perder o impulso. Isso não implica pessimismo para o segundo semestre. Butori lembra que o período de julho a dezembro costuma ser melhor. Há uma melhora de encomendas para agosto e que o segmento não está estocado. A indústria química e a de embalagens mostram comportamento parecido: as vendas domésticas vão mal, enquanto as exportações continuam fortes. O vice-presidente da Abiquim, Guilherme Duque Estrada, diz que conversas com representantes do setor mostram que julho foi um mês fraco, "na melhor das hipóteses igual a junho". No primeiro semestre, o volume das vendas internas caiu 1,09% ante igual período de 2004, enquanto as exportações subiram 34,2%, para US$ 3,57 bilhões. O presidente da Abre (do setor de embalagens), Fábio Mestriner, que projetava no começo do ano crescimento de 4% a 4,5% para o setor em 2005, rebaixou a previsão para 3%. O segmento, ressalta ele, depende muito do desempenho de bens semi e não duráveis, como alimentos e bebidas, que ainda não cresceram como se esperava devido à recuperação fraca da renda. Duque Estrada e Mestriner, porém, esperam um melhor desempenho daqui para a frente. O relaxamento monetário, que deve começar em breve, tende a ajudar. Os empresários mostram preocupação, porém, com o impacto da crise política sobre o investimento. Loureiro diz que não conhece casos de cancelamento de ampliação capacidade de produção, mas avalia que alguns estão em compasso de espera. Por enquanto, apenas dois indicadores econômicos importantes referentes a julho foram divulgados: a produção de veículos e o consumo de energia elétrica. Nos dois casos houve queda em relação a junho, na série livre de influências sazonais. A primeira caiu 2% e o consumo de energia, 1,8%. Para o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, isso indica que a produção industrial deve registrar queda de 1%, depois crescer em junho. Ele estima que a alta foi de 2% - o número será divulgado hoje pelo IBGE. "A acomodação em julho é normal", diz ele, acrescentando que, se sua previsão de expansão da produção industrial em junho estiver correta, atingirá o nível mais alto da história. Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a atividade industrial no segundo trimestre cresceu 3,8% em relação ao mesmo período do ano passado, avalia Estevão Kopschitz, responsável pela área de atividade do Ipea/Rio. Apenas em junho, o Indicador Ipea projetou alta de 1,8% ante maio e de 6,6% sobre junho de 2004, calculada com base nos indicadores antecedentes da produção de aço, papel ondulado, veículo e energia. O PIB do segundo trimestre deve crescer 0,7% ante o primeiro, avalia o Ipea, que estima uma taxa de 2,8% para o PIB de 2005.