Título: Valério diz que não vai mais segurar informação
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2005, Política, p. A8

O empresário Marcos Valério de Souza está ansioso para seu depoimento na CPI do Mensalão. Foi o que informou ontem em Belo Horizonte. "Não vou mais segurar nenhum tipo de informação comigo", declarou ele, que é acusado de ser operador do mensalão. Marcos Valério afirmou que poderá contribuir muito com o trabalho da comissão, revelando detalhes das operações que fez para o PT. O empresário também informou ontem que vai impetrar, na semana que vem, a ação contra o Partido dos Trabalhadores para receber mais de R$ 55 milhões que o partido lhe deve. A declaração foi uma resposta à nota distribuída pelo Banco Rural dando conta de que moverá ação contra Marcos Valério para receber a dívida relativa a empréstimos contraídos por ele a duas de suas empresas. De acordo com a assessoria de imprensa do banco, a ação será impetrada nos próximos dias. Serão três ações de execução: uma contra Marcos Valério, de R$ 500 mil; outra contra a SMP&B, de R$ 17 milhões; e a terceira contra a Graffitti, de R$ 38 milhões. "A dívida é do PT", respondeu o empresário mineiro, sobre a ameaça do banco. Marcos Valério esteve reunido na tarde de ontem com seus advogados, acertando os detalhes da sua defesa e do depoimento que prestará à CPI do Mensalão. Segundo ele, caberá aos membros da CPI e à Procuradoria Geral da República decidir se lhe cabe punições. Nas palavras do empresário, está na hora de cada parte assumir suas responsabilidades. Sobre as novas acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB), sobre ter ido a Portugal como emissário do governo federal para levantar recursos junto a Portugal Telecom, Marcos Valério voltou a garantir que nunca se apresentou como representante da Presidência da República. Ele informou que esteve em Portugal quatro vezes desde o ano passado. A primeira, no ano passado, teria sido a turismo, acompanhado da mulher, Renilda, e de um casal de amigos. Valério afirmou que esteve outras três vezes. Duas delas, acompanhado do advogado e seu sócio Rogério Tolentino, para prospecção de negócios. Segundo ele, a Portugal Telecom tinha interesse na compra da Telemig Celular, que é cliente das suas agências DNA e SMPB. Só na terceira viagem, o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, teria o acompanhado. Nesta viagem, no entanto, o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, não pôde recebê-los. Os dois, segundo Marcos Valério, permaneceram por dois dias no país, passeando. "Ele (Roberto Jefferson) subestima a inteligência das pessoas e vai construindo seus mecanismos, suas ilusões", declarou, em entrevista à rádio "CBN". "Ele faz as alucinações que acha que deve." Ontem, a polícia mineira encontrou mais documentos de Marcos Valério, sua esposa e suas empresas num lote vago em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Os papéis, incluindo talões de cheque, estavam picados. Mas a polícia informou que será possível montá-los na perícia. No mês passado, notas fiscais da DNA parcialmente queimadas já haviam sido encontradas em Belo Horizonte. Segundo Valério, " são fragmentos de agenda e outros documentos pessoais da senhora Renilda Fernandes, furtados e rasgados". Os documentos se referem à reforma da residência do casal em Belo Horizonte. "Minha vida está uma bagunça, virou uma festa", afirmou, referindo-se ao desrespeito à sua privacidade. Segundo ele, sua fatura da Credicard foi transferida para um endereço em Santa Catarina, sem que ele tivesse solicitado ou tivesse conhecimento. Também em Belo Horizonte, a Polícia Federal começou a ouvir ontem pessoas identificadas como sacadores nas contas da SMP&B no Rural. Um deles foi Nestor Francisco, assessor do deputado federal Roberto Brant (PFL), que sacou R$ 102 mil. De acordo com Brant, o dinheiro foi uma doação da Usiminas para a campanha à prefeitura de Belo Horizonte em 2004, feita através da agência. A Usiminas não quis se pronunciar sobre o assunto. A PF continua ouvindo sacadores hoje.