Título: Executivos da GTech acusam Buratti e Waldomiro
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2005, Política, p. A8

Dois ex-executivos da Gtech do Brasil, filial de uma empresa americana que prestava serviços às loterias da Caixa Econômica Federal, fizeram ontem pesadas acusações contra o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz e o advogado Rogério Tadeu Buratti, secretário de governo em Ribeirão Preto na gestão do então prefeito Antonio Palocci (2001-2002). Em depoimento à CPI dos Bingos, o ex-diretor de marketing Marcelo Rovai revelou que, nas vésperas da renovação do contrato da Gtech para operar as loterias da Caixa, a empresa foi achacada por Buratti. De acordo com Rovai, Buratti exigiu propina de R$ 6 milhões para concretizar a renovação e teria agido a mando de Waldomiro. A Gtech assegura ter recusado as tentativas de extorsão, que se intensificaram entre 31 de março e 8 de abril de 2003, segundo o depoimento. O contrato acabou sendo renovado em abril, com desconto de 15% sugerido pela própria empresa, sem prejuízo nos serviços prestados, segundo Rovai. No relato do ex-diretor de marketing, Buratti foi claro. "Se tivessem me contratado antes, teriam dado à Caixa um desconto menor, de 8% em vez dos 15% acertados, e o dinheiro ficaria para mim. Como não fizeram isso, vão ter que me pagar por fora", afirmou Buratti, sempre na versão dada por Rovai. Quando a direção da Gtech rejeitou a propina, Buratti teria dito que iria conversar com o "pessoal dele". Os ex-executivos da multinacional americana estão convencidos de que o ex-secretário de Palocci em Ribeirão Preto tinha a proteção de Waldomiro. "Ele demonstrava a arrogância de quem tinha as costas quentes", completou Rovai. O ex-presidente da Gtech, Antônio Carlos Lira da Rocha, seguiu a mesma linha do primeiro depoimento e confirmou as tentativas de extorsão. Ele também negou qualquer tipo de pagamento. Já o advogado Enrico Gianelli, que dava consultoria jurídica à Gtech, ignorou a convocação da CPI e não compareceu no Senado. O relator da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PFL-RN), acredita que a tentativa de extorsão ficou caracterizada e agora é preciso descobrir se Buratti agia sozinho. "Ou ele estava blefando ou tinha gente grande por trás", avaliou Garibaldi. Para o parlamentar, o depoimento de Buratti na terça-feira da próxima semana é fundamental para as investigações. Garibaldi afirmou que apenas os dados de sigilo bancário da Gtech e dos seus antigos executivos poderão comprovar que o pedido de propina, se de fato ocorreu, foi mesmo recusado. O problema é que as informações de 11 sigilos, quebrados no mês passado, ainda não chegaram à CPI. Na lista, estão os sigilos de Waldomiro, da Gtech e do empresário do ramo lotérico Carlos Cachoeira. Garibaldi disse ainda que é preciso ter "muita cautela" nas investigações para evitar relacionar indevidamente Buratti com o ministro Antônio Palocci. Segundo Garibaldi, ainda não está claro se de fato houve a extorsão. Ele cobra pressa na entrega de dados dos bancos, o que considera essencial para subsidiar as perguntas dos parlamentares nos próximos depoimentos.