Título: Adeus em tom de comício
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 01/04/2010, Política, p. 08

No dia em que se despediu do comando de SP para concorrer ao Planalto, José Serra criticou o PT e foi xingado por 2 mil professores que protestaram no centro da capital

São Paulo ¿ Ao se despedir do governo de São Paulo para concorrer à Presidência da República, José Serra (PSDB) fez ontem um balanço de sua gestão, criticou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e alfinetou a sua concorrente, Dilma Rousseff (PT). Ainda enfrentou protestos de professores em greve que bloquearam a Avenida Paulista para ¿comemorar¿ o bota-fora do governador tucano. Serra deixa o cargo amanhã e, em 10 de abril, se lança candidato em cerimônia na capital federal.

No discurso de quase uma hora, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o tucano embargou a voz duas vezes, mas não chorou. Disse repudiar a ¿espetacularização¿ e a busca pela notícia fácil, fazendo alusão às atividades do PT para emplacar Dilma. ¿Este governo não cedeu à demagogia. Nós nunca incentivamos o silêncio nem a conivência com o malfeito.¿

Na despedida, Serra esteve ao lado de todo o primeiro escalão do governo paulista, prefeitos, deputados estaduais, federais, vereadores e correligionários que chegaram em 72 ônibus fretados por simpatizantes. Uma ausência sentida por todos foi a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

No momento mais empolgante do discurso, em clima de campanha, Serra admitiu ser obsessivo, disse que está na vida pública desde os 20 anos e que nunca usou os holofotes da mídia para se promover pessoalmente. ¿No meu governo, nunca se olhou a cor da camisa partidária. Ele serve ao interesse público, e não à máquina do partido. Nós governamos para o povo¿, insistiu o tucano. Amanhã, ele enviará à Assembleia Legislativa de São Paulo uma carta renunciando ao posto. Seu vice, Alberto Goldman, assumirá o governo.

Ao fazer o balanço dos 39 meses em que esteve no governo paulista, Serra disse que as melhores estradas do país estão em São Paulo e que em sua gestão houve avanços na saúde, na educação e nos transportes, citando em seguida uma série de obras que foram entregues recentemente por ele na capital.

No fim do discurso, feito para cerca de 5 mil pessoas, ele se dirigiu a uma sacada para falar a cerca de 6 mil simpatizantes que não conseguiram entrar no auditório onde o tucano se despedia. Ao detalhar o balanço do governo, Serra disse que fez uma gestão popular ao listar os programas sociais Viva Leite, Renda Cidadã, Vila dos Idosos, Condição Jovem, Escolas Técnicas, o programa de qualificação do trabalhador e o Emprega São Paulo. ¿Os governos, como as pessoas, têm de ter sensibilidade para agir e compensar as desigualdades¿, justificou. O tucano também ressaltou a geração de 1 milhão de empregos com investimentos diretos e indiretos e deu destaque para a inauguração do Rodoanel.

Enquanto Serra se despedia do cargo, cerca de 2 mil professores faziam passeatas pelas ruas do Centro de São Paulo. Nem o anúncio feito à tarde pela Secretaria de Educação do estado, dando aos docentes reajuste de 25% por mérito, acalmou os manifestantes, que xingavam o governador. Eles exigem aumento de 34% e o fim do reajuste por mérito. Em nota, a instituição defendeu que o ato dos professores tem objetivo político por coincidir com a despedida de Serra.

Palanque indefinido em Minas Gerais

Patrícia Aranha

A saída dos ministros das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias (PT), do governo Lula explicitou as dificuldades de articulação do palanque único em Minas Gerais para a pré-candidata do Partido dos Trabalhadores à Presidência, Dilma Rousseff. Ontem, ao transmitirem o cargo, ambos reafirmaram que pretendem concorrer ao governo de Minas. Mas o PT nem sequer solucionou a cisão interna. Além de Patrus, o partido tem como pré-candidato o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Antes de deixar a pasta, Patrus se reuniu com Hélio Costa, na terça-feira. Apesar da cordialidade da conversa, ambos mantiveram seus nomes para a disputa.

No mesmo dia da saída dos ministros, o presidente do PT mineiro ¿ o deputado federal Reginaldo Lopes ¿ e um grupo de parlamentares entregaram ao presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e ao chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, um manifesto pela candidatura própria. ¿O partido deixou para trás antigas diferenças¿, garante o texto, que não cita nem o PMDB nem Hélio Costa. Os petistas ouviram o apelo por um acordo com os peemedebistas e se comprometeram a tentar o consenso até 12 de abril. Se até lá um dos pré-candidatos da legenda não desistir da disputa, haverá prévias em 2 de maio, contrariando a decisão do diretório nacional, que considerou as consultas internas politicamente inconvenientes.

O presidente do PMDB, o deputado federal Antônio Andrade, voltou a avisar que o partido não vai esperar o PT para começar a pré-campanha. ¿Agora que não é mais ministro, Hélio Costa terá tempo para se sentar e conversar com todos os partidos da base aliada. Entendemos que o PT ainda precisa de tempo para se pacificar, mas o PMDB tem candidato e quer fazer as composições o mais rápido possível¿, afirmou.

Patrus e Pimentel haviam se comprometido com o presidente Lula, numa reunião no último dia 19, a apresentarem até ontem apenas um nome do PT ao governo. Uma pesquisa encomendada ao Instituto Sensus, contudo, incentivou-os a adiar a decisão. A sondagem mostrou que qualquer um dos petistas poderia vencer, neste momento, o governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato do ex-governador Aécio Neves, em cenários com um ou dois candidatos da base aliada. Os números foram divulgados ontem pelo deputado federal Miguel Corrêa Jr. (PT), ligado a Pimentel, por meio do Twitter.

Aécio: discurso de conciliação Durante o último discurso do mandato como governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) usou tom conciliatório e evitou fazer referências explícitas à disputa eleitoral deste ano. ¿Devemos aos brasileiros um cenário mais generoso da ação política. A grandeza do país que somos convoca-nos à superação da lógica do enfrentamento¿, defendeu o governador, da sacada do Palácio da Liberdade. Até 10 de abril, Aécio e o também tucano José Serra deverão ter um encontro para traçar metas de trabalho da campanha mineira.