Título: Câmbio aumenta lucro das companhias
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2005, Empresas &, p. B1

Balanços Real valorizado reduz as despesas com dívidas em dólar

A valorização do real se transformou no principal trunfo das empresas brasileiras para lucrar mais no segundo trimestre deste ano. É o que mostra levantamento feito pelo Valor Data com base nos balanços divulgados até ontem. Enquanto a receita líquida cresceu apenas 11% na comparação com igual período do ano passado, o lucro líquido subiu 70%. Alvo de constante reclamação dos exportadores por derrubar a rentabilidade das vendas externas, o câmbio acabou reduzindo e até revertendo as perdas com endividamento em moeda estrangeira no último trimestre. Das 46 empresas analisadas pelo Valor Data, 31 conseguiram melhorar o seu resultado financeiro. A lógica é a seguinte: com o real valendo 18,6% mais em relação ao mesmo trimestre de 2004, precisou-se de menos dinheiro para pagar as dívidas em dólar neste ano. No fim, essa diferença foi mais do que suficiente para compensar a perda de rentabilidade das exportações. Esse foi o caso da Aracruz. Mesmo com receita e margem bruta menores, a fabricante registrou o melhor lucro líquido de sua história: R$ R$ 492,9 milhões, quase 300% maior. A explicação vem do lado financeiro. Enquanto no segundo trimestre de 2004 a Aracruz teve uma perda de R$ 249,8 milhões, neste ano houve um ganho de R$ 175,6 milhões. "Com cerca de 80% das suas dívidas dolarizadas, a Aracruz precisou de menos reais para pagá-las no último trimestre", afirma a analista Catarina Pedrosa, do Banif Primus. Ao fim de junho, a empresa tinha um endividamento de R$ 2,7 bilhões. Fenômeno parecido aconteceu com a Suzano, mas não se restringiu apenas ao setor de papel e celulose. A valorização do real foi um fator importante para a Braskem reverter um prejuízo de R$ 302 milhões num lucro de R$ 428 milhões. "O efeito cambial gerou um ganho de R$ 368 milhões", explica Paul Altit, vice-presidente de finanças da Braskem. Mas não foram apenas as exportadoras que ganharam com a valorização do real de abril a junho deste ano. Quem só tem receita em real mas se endividou em dólar - como a Lojas Renner - também lucrou. O resultado líquido da varejista saltou de R$ 1,4 milhão para R$ 32,7 milhões. A varejista transformou um prejuízo financeiro de R$ 17,7 milhões em um lucro de R$ 23,8 milhões. A questão é saber até quando o real mais forte continuará beneficiando as empresas exportadoras. "Vejo pouco espaço para as companhias continuarem ganhando. Se o câmbio se mantiver neste patamar, não haverá mais ter ganho financeiro. E do lado operacional, as empresas continuarão com as margens prejudicadas", avalia Ricardo Cavalheiro, estrategista do banco Santander. Para ver que os ganhos podem não ir muito longe, basta lembrar que esse mesmo endividamento em dólar já fez as empresas passarem momentos de apuros às vésperas das eleições presidenciais, quando a moeda seguiu a trajetória inversa. Nessa safra de balanços já é possível notar que os ganhos não devem se sustentar por muito tempo. O resultado financeiro melhor de algumas companhias não foi suficiente nem mesmo para manter o lucro por causa do fraco desempenho das exportações. É o que aconteceu com a Marcopolo. O dólar fraco derrubou a margem bruta da empresa de 19,1% para 13,4%, sendo insuficiente para compensar o ganho financeiro de quase R$ 20 milhões ocorrido no trimestre. A conseqüência foi que, na última linha do balanço, houve uma redução de R$ 22,8 milhões para R$ 16 milhões. (Colaborou André Vieira)