Título: Rolagem abrangente de dívidas em análise
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2005, Agronegócios, p. B12
Política agrícola Segundo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, Tesouro avalia o custo da medida
A prorrogação das dívidas de custeio referentes à safra 2004/05 que venceriam em junho, julho e agosto deste ano poderá ser definida hoje (dia 5) ou no início da próxima semana, conforme o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. "A equipe econômica está analisando os custos da rolagem dessas dívidas", afirmou Rodrigues - que recebeu o Valor ontem (dia 4) em seu gabinete em São Paulo. No caso dos produtores do Centro-Oeste e da Bahia, esta prorrogação já poderia ter sido aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na semana passada, mas Rodrigues - em comum acordo com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci - tirou o assunto da pauta com o objetivo de avaliar a possibilidade de estender o benefício para outros Estados e regiões. "Houve pressão de Estados do Sul do país, Minas Gerais, Piauí e Maranhão". A possibilidade de permitir uma prorrogação mais abrangente levou a equipe econômica a analisar os custos totais da medida - que beneficiaria produtores de arroz, soja, algodão, milho, trigo e sorgo do país. Esses estudos estão a cargo do Tesouro. Segundo Rodrigues, os custos totais devem girar em torno de R$ 100 milhões. Somente as dívidas do Centro-Oeste e Bahia estão estimadas em R$ 1,8 bilhão. Mas Rodrigues lembrou que, quanto maior a rolagem das dívidas, menos recursos serão liberados para a nova safra (2005/06). Segundo o ministro, o agricultor que tiver seus débitos prorrogados não deverão obter 100% dos recursos para 2005/06. O valor deverá ser menor, proporcional ao que foi rolado. Roberto Rodrigues informou, também, que os recursos para a nova safra deverão estar disponíveis nas agências do Banco do Brasil (BB) a partir da próxima semana. O BB informou, por meio de sua assessoria, que está apenas aguardando portarias do Tesouro para aprovar a liberação. A previsão era de que o banco recebesse essas portarias até hoje. A liberação desses recursos só pode ser disponibilizada dois dias depois da publicação das portarias. Em junho, o governo anunciou que os recursos da safra 2005/06 seriam de R$ 44,35 bilhões, 12,4% maior que o destinado em 2003/04. Do total, R$ 33,2 bilhões serão dedicados ao custeio e à comercialização e R$ 11,15 bilhões para investimentos no setor. Em meio às discussões e pressões sobre dívidas e socorro aos produtores, Rodrigues voltou a negar os rumores de que ele teria pedido demissão. Mas afirmou que está descontente com as dificuldades financeiras de parte dos agricultores. "Sabemos que o cobertor está curto. Vou continuar lutando com toda a força porque acredito nesta luta". De acordo com ele, o momento delicado por conta da crise política que o governo Lula enfrenta não tem afetado diretamente a agricultura. "A crise na agricultura é anterior e maior que o momento delicado na política", afirmou. Rodrigues destacou que o setor sucroalcooleiro está em um de seus melhores momentos. "Vejo o o setor de agroenergia e etanol com um potencial extraordinário", afirmou. Estudos do ministério apontam para um consumo de 11 bilhões de litros de álcool a mais até 2013 para atender ao crescimento da frota dos carros bicombustível no mercado interno. Rodrigues tem orientado as indústrias de usinas e álcool a decidir com "inteligência e sabedoria" as discussões entre usinas e fornecedores sobre a remuneração da matéria-prima. "O governo não tem como interferir neste processo". Segundo afirmou o ministro à agência Reuters durante abertura do Fórum do Conselho das Américas, em São Paulo, a produção de soja deverá ser de 60 milhões em 2005/06, mesmo volume estimado para 2004/05, e a área de milho deverá avançar sobre a de algodão. Na tarde de ontem, o ministro se reuniu com os exportadores de carne bovina. Um dos temas da pauta foi a visita de uma missão técnica européia, no fim deste mês, ao país para inspecionar a produção brasileira de gado.