Título: Reajuste salarial parcelado não agrada militares
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2005, Brasil, p. A2

O reajuste concedido pelos governo aos militares, que vai custar R$ 4,950 bilhões aos cofres da União neste ano e no próximo, não deixou os integrantes da Forças Armadas satisfeitos. Ontem, mulheres de militares - aglutinadas na União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa) - retomaram a rotina de protestos, desta vez na cerimônia mensal de hasteamento da bandeira nacional, em Brasília. No sábado, o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, divulgou aumento salarial de 13% para os militares a partir de 1º de outubro deste ano, após reunião entre a junta orçamentária e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada sexta-feira, na Granja Torto. No encontro, o governo decidiu também assumir o compromisso de dar um reajuste adicional de 10% em agosto de 2006. A expectativa das Forças Armadas, porém, é que fosse concedido a partir de agora um reajuste de 23%. Os comandantes militares sustentam que foi o próprio governo quem prometeu, em 2004, o reajuste - na verdade, o ex-ministro da Defesa José Viegas, antecessor de José Alencar. A área econômica resiste a reajustes maiores em virtude do alto impacto fiscal. O reajuste de 23% em duas parcelas extrapolou em muito o que eles propunham - a oferta anterior dos ministérios do Planejamento e da Fazenda era conceder 5% neste ano outros 6% em 2006. O Ministério da Defesa vinha insistindo nos 23%, com parcela de 13% retroativa a julho e outra de 10% em janeiro de 2006. Do jeito que ficou acertado, o reajuste de 13% terá impacto de R$ 800 milhões apenas este ano, referente aos vencimentos pagos de outubro a dezembro e ao 13º salário. No ano que vem, o impacto dos 13% será de R$ 2,85 bilhões, incluindo salários, férias e o 13º salário. O reajuste de mais 10%, prometido para agosto de 2006, terá um custo de mais R$ 1,3 bilhão, o que eleva o custo em 2006 para R$ 4,15 bilhões. Em termos percentuais, o gasto adicional com os reajustes dos militares representa 4,51% na folha de pagamento de pessoal da União, que soma R$ 92 bilhões. Com o reajuste, o governo esperava se livrar dos protestos organizados pelas mulheres dos militares, que durante dois meses ficaram acampadas na Esplanada dos Ministérios e perseguem o presidente Lula em eventos públicos - chegaram a promover "apitaços" em cerimônias para receber chefes de Estado estrangeiros.