Título: Falta de regulamentação e capital fechado são restrições
Autor: João Luiz Rosa e Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2005, Empresas &, p. B2

Apesar do interesse crescente, dois fatores ainda fazem com que os investidores mantenham o pé no freio na hora de fazer um aporte nas empresas brasileiras de biotecnologia: a dificuldade de sair do negócio posteriormente - um ponto que não é exclusivo da biotecnologia - e a falta de regulamentação da nova lei sobre o assunto. "O mercado de capitais é um problema", reconhece Paulo Henrique de Oliveira Santos, diretor geral da Votorantim Novos Negócios. Nos Estados Unidos, mais de 300 empresas de biotecnologia já venderam ações ao público, uma maneira que os fundos usam para recuperar o dinheiro investido em companhias iniciantes e remunerar seus investidores. Este caminho - a oferta pública de ações - seria o modelo ideal para obter lucro, diz Guilherme Emrich, co-fundador da Fir Capital. Ele admite, no entanto, que essa estratégia dificilmente se concretiza no Brasil. Em biotecnologia a exceção foi a Biobrás, que chegou à Bovespa na década passada. Em 2002, a empresa foi comprada pela Novo Nordisk, da Dinamarca. Sem a bolsa, restam poucas opções, como vender a participação para uma grande empresa ou um fundo maior. Uma das estratégias adotadas pela Fir é o que Emrich chama de modelo de Israel. Ele leva a empresa em que investiu para os EUA, onde é mais fácil tentar uma oferta de ações ou obter financiamento local. A Fir já levou três empresas aos EUA, uma das quais foi vendida. Na Votorantim Novos Negócios existe a possibilidade de "internar" as empresas que recebem investimentos, ou seja, acompanhar sua evolução até uma fase em que elas tenham condições de tornar-se parte efetiva do grupo Votorantim, caso haja uma decisão neste sentido. Os três investimentos em biotecnologia feitos pela Votorantim até agora vão "muito bem", afirma Santos, mas o executivo diz que ainda é muito cedo para avaliar se as empresas serão incorporadas. "Estamos na fase de investimento. Os ciclos de desenvolvimento são longos e as companhias ainda precisam se provar", pondera. Bem mais fácil do que mudar a face do mercado de capitais no Brasil é regulamentar a lei de biossegurança, a outra lacuna apontada por investidores e acadêmicos. A nova legislação foi aprovada em maio. "A lei é muito boa, mas precisa entrar em ação", diz Fernando Reinach, presidente da Alellyx, uma das empresas da Votorantim Novos Negócios. "Já temos produtos para testar, mas não estamos conseguindo aprovar os testes por causa disso. A engrenagem tem de rodar." Duas providências são esperadas do governo. Uma delas, claro, é a regulamentação em si, uma atribuição da Casa Civil. A outra é a nomeação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O órgão vai monitorar os produtos gerados a partir da engenharia genética no país e será composto de 30 membros. Em linhas gerais, a lei disciplina a questão dos transgênicos, permitindo que as análises de biossegurança sejam feitas por órgãos qualificados, que podem dar o aval para a venda dos produtos. "Isso deve abrir caminho para o aumento dos investimentos em pesquisa de biotecnologia, sobretudo em agronegócios", diz Emrich, da Fir Capital. Nada disso, claro, pode garantir que todos os investimentos em biotecnologia que venham a ser feitos, ou mesmo a maioria deles, terão sucesso. Mas é por isso mesmo que há consenso sobre a necessidade de uma aproximação maior com potenciais investidores. "Nos Estados Unidos, o empreendedor cria e afunda a primeira e a segunda empresa. Às vezes é na terceira que ele vai ganhar algum dinheiro, até ficar rico com a quarta", diz Carlos Henrique Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). "No Brasil também precisamos tentar mais, errar mais. O erro tem de ser considerado um aprendizado. Não pode ser castigado." (JLR e RC)