Título: PT e PMDB substituem líderes afastados
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2005, Política, p. A7

O governo começa hoje a tentar rearticular sua base de apoio na Câmara dos Deputados despedaçada após o escândalo do mensalão. O PT e o PMDB, as duas maiores bancadas, escolhem seus líderes em substituição a Paulo Rocha (PT-PA) e José Borba (PMDB-PR), afastados após saques nas contas do empresário Marcos Valério de Souza. A situação é tão delicada que o novo coordenador político do governo, Jaques Wagner, empossado há quase um mês, não realizou ainda nenhuma reunião com o Colégio de Líderes. As conversas com o PP são feitas com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que não representa todo o partido. No PL, ele é auxiliado pelo vice-presidente da República, José Alencar, que mantém estreita ligação com o presidente da legenda e ex-deputado, Valdemar Costa Neto. A relação com PL é agravada pelo fato de que o atual líder Sandro Mabel (PL), acusado de oferecer dinheiro a deputados para a mudança de partido, não cogita deixar o cargo. No PT, o líder do governo, Arlindo Chinaglia, dá informes diários sobre a situação no Congresso. A sucessão no PT passa pela tentativa de composição do Campo Majoritário com as tendências de esquerda para um armistício entre as duas alas. O nome deve ser escolhido entre Henrique Fontana (RS), Fernando Ferro (PE) e Luís Sérgio (RJ), que respondem pela liderança informalmente desde a saída de Paulo Rocha. A dificuldade de Sérgio é o fato de ele ser do PT do Rio, o mesmo de Marcelo Sereno e Waldomiro Diniz, ex-assessores da Casa Civil envolvidos nos últimos escândalos de corrupção. No PMDB a escolha deve marcar mais um round entre governistas e oposicionistas. A disputa será uma oportunidade dos novos ministros da Saúde, Saraiva Felipe, e das Comunicações, Hélio Costa, mostrarem sua força na bancada. O deputado Wilson Santiago (PB), líder interino, é o preferido do Planalto, que, no entanto, não quer se envolver na disputa. Os nomes citados pela ala oposicionista são Geddel Vieira Lima (BA) e o ex-ministro Eliseu Padilha (RS). Um dos dois teria o apoio do ex-governador Anthony Garotinho, que quer garantir aliados para disputar a prévia do partido que vai escolher o candidato à Presidência da República. Há ainda a hipótese de Wilson Santiago se manter até novembro, quando assumiria o cargo o atual relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PR). A escolha dos novos líderes é essencial para retomar as votações no plenário da Câmara, parado há quase três meses. O temor do governo é de que a fragilidade de lideranças informais possa não garantir a aprovação de projetos que exigem maioria simples. (Colaborou Maria Lúcia Delgado)