Título: PFL paulista tende para Serra em 2006
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2005, Política, p. A8

Crise Prefeito e governador, ambos pré-candidatos à Presidência da República, têm vices pefelistas

Um ajudou o outro nas últimas eleições que disputaram, mas agora podem iniciar uma luta política no partido. Com o enfraquecimento do PSDB mineiro em razão das ligações do senador Eduardo Azeredo e do governador Aécio Neves com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, é consensual no partido que a disputa pela candidatura à Presidência em 2006 se restringirá nos próximos meses ao tucanato paulista, entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra. Por ora, no entanto, ambos não assumem a candidatura e até evitam comentários com seus interlocutores. Alçados à condição de coadjuvantes dos tucanos, pefelistas da Câmara dos Deputados e da Assembléia paulista têm manifestado preferência em fazer uma aliança encabeçada por Serra, por saberem que, assim, o partido teria mais condições de derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltar ao poder e, de quebra, receber o mandato quase inteiro da prefeitura, terceiro maior Orçamento da União. O vice de Serra é Gilberto Kassab, do PFL. Querem, no entanto, uma aliança que não coloque mais uma vez a legenda na condição de coadjuvante. "A preferência por um ou por outro é secundária. A aliança passará por um rearranjo. Os dois são nomes respeitáveis (Alckmin e Serra), mas o PSDB precisa remover a resistência em lugares em que eles não têm nomes fortes para os governos estaduais", afirma o senador José Agripino Maia (RN). A intenção do partido é que os tucanos aceitem a cabeça de chapa do PFL em alguns Estados e indiquem os vices nesses lugares. Por exemplo, na Bahia, onde o governador Paulo Souto (PFL) tentará a reeleição, e em São Paulo, onde apóiam nomes como Guilherme Afif Domingos ou do presidente da Assembléia paulista, deputado Rodrigo Garcia, ao governo paulista. Com todo esse quadro, tucanos pró-Alckmin e pró-Serra tentam manter a discrição e jogar a discussão do tema para a frente. Antes, o mês da escolha seria novembro, mas o partido preferiu adiar para o primeiro trimestre de 2006 para aguardar os desdobramentos da crise. Pesquisas à parte, o que deve mesmo influenciar na escolha é a situação de Lula. Um presidente forte propiciará a formação de uma candidatura serrista. Já seu enfraquecimento deve consolidar a candidatura Alckmin. "O que vai decidir é o quadro político geral e a pesquisa faz parte dela. O (ex-governador Mário) Covas falava que o período pré-eleitoral vai formando uma moldura e, na hora em que ela estiver pronta, verifica-se qual é a melhor fotografia para essa moldura. Chega lá na frente, quem estará melhor? Esse será o nosso candidato", afirma o chefe da Casa Civil de Alckmin, Arnaldo Madeira. Alckmin é considerado por secretários como "reservado" e "fechado" para falar de política e de seus planos para 2006, mas já há algum tempo sinaliza seu interesse na disputa. Nos últimos dias, intensificou os ataques ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por mais de uma vez adotou tom de campanha. No fim de semana, Alckmin e Serra dividiram as atenções em seminário do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, em Florianópolis. Disputaram entre si o discurso mais inflamado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na semana passada, em entrevista ao programa "Brasil Urgente", da TV Bandeirantes, Alckmin disse que se sentiria "honrado" se convidado pelo PSDB para a disputa. "Olha, Datena, quem não se sentiria honrado de ter essa oportunidade de ajudar o país?", afirmou. No dia seguinte, participou na Praia Grande, litoral paulista, da cerimônia de abertura do 5º Congresso da Força Sindical e deu clima de campanha ao discurso que fez a cerca de 2,5 mil trabalhadores: afirmou que o país tem "um governo que não funciona, um presidente que não comanda". Atacou também a política econômica federal e anunciou a redução do ICMS para produtos populares. Além disso, conforme revelou o Valor segunda-feira, seu governo possui R$ 4 bilhões em caixa e acelera a execução de R$ 12,3 bilhões em projetos em andamento para o biênio 2005/2006. O conjunto dos investimentos deverá atingir os R$ 6,9 bilhões neste ano, depois de uma média de R$ 3,5 bilhões até 2002, R$ 2,8 bilhões em 2003 e R$ 4 bilhões no ano passado. Porém, sempre que questionado sobre suas intenções eleitorais, o governador diz que o assunto é prematuro. Considerado o candidato natural da legenda, o que assusta os tucanos é a capacidade de Alckmin para enfrentar uma disputa nacional. Na última pesquisa Datafolha, publicada em 23 de julho, Lula o venceria por 36% a 16% no primeiro turno, e por 49% a 33% em um eventual segundo turno. Para tentar driblar esse entrave, o governador já há algum tempo iniciou um périplo em Estados em que seu nome é pouco conhecido. Somente em julho, passou pelo Maranhão, Amapá, Alagoas e Pernambuco e se aproximou do senador Tasso Jereissati (CE). Por sua vez, Serra tem o recall eleitoral das eleições de 2002, e, pelas pesquisas, é o único até o momento capaz de levar a disputa presidencial ao segundo turno, o que faz com que tucanos de Brasília dêem a ele o poder individual de decidir se quer ou não ser candidato. Ele diz que não é e até já transmitiu essa mensagem a seu vice e eventual sucessor, Gilberto Kassab (PFL). Mas, assim como Alckmin, não perde a oportunidade para atuar como candidato. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo" chegou a elencar as tarefas do próximo presidente, que vão, segundo ele, da reconstrução da política econômica e finalização do processo de privatização até a resolução de problemas do Mercosul. Secretários de seu governo afirmam que a contínua cobrança e o ritmo de trabalho que o tucano impôs à administração não deveria, em tese, fazer qualquer um deles imaginar que ele possa deixar o cargo no ano que vem. A saída de Serra e o conseqüente desgaste político pessoal que lhe causaria é o que mais pesa contra ele, já que deixar o comando da cidade depois de pouco mais de um ano no cargo e entregaria os três anos restantes ao PFL. Alguns vereadores da Câmara paulistana - após passarem quatro anos sob a gestão da petista Marta Suplicy (PT) - afirmam que se sentiriam traídos com a saída do prefeito.