Título: Sob pressão, Severino envia ao Conselho de Ética pedido de cassação de Dirceu
Autor: Jaqueline Paiva e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Política, p. A6

Sob pressão dos próprios acusados, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) enviou ontem ao Conselho de Ética os pedidos de abertura de processo por quebra de decoro dos deputados José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, e Sandro Mabel (GO), líder do PL. O ofício de Severino relacionou também dois petebistas mineiros: Romeu Queiróz e Francisco Gonçalves. Os deputados têm até às 15h de hoje para renunciar ao mandato, se quiserem se antecipar à eventual cassação de mandato e à perda dos direitos políticos por oito anos. Ontem, Dirceu e Mabel reafirmaram que preferem correr o risco da cassação, inerente ao processo, a renunciar ao mandato. Mabel disse que tinha "pressa" em provar sua inocência. Dirceu, em reunião da bancada do PT para a escolha do novo líder, afirmou que não renunciaria por uma "questão de honra". Ao todo, nove deputados estão sendo processados, por quebra de decoro, no Conselho de Ética, inclusive o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ). Severino estava sob forte pressão do presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PL-SP), mas insistia que a remessa dos pedidos ao conselho só tumultuaria o trabalho. Argumentava que o conselho já analisa o caso de Jefferson há 62 dias e ainda não tomou uma decisão, quando tem apenas 90 dias para isso. A resistência do presidente da Câmara, no entanto, caiu por terra quando José Dirceu e Sandro Mabel o procuraram e pediram que o processo fosse aberto. Acuado, Severino tratou de encontrar uma saída honrosa: um projeto do deputado Ney Lopes (PFL-RN) que permite a prorrogação dos trabalhos do Conselho de Ética, caso o órgão não consiga deliberar no prazo de 90 dias estabelecidos pelo regimento. Sandro Mabel argumentou que tem "pressa" em provar sua inocência, porque até agora não haveria "nenhuma prova" de que ele efetivamente era um dos operadores do "mensalão", conforme a denúncia feita por Jefferson. O líder do PL é acusado também, pelo petebista, de haver tentado cooptar a deputada Raquel Teixeira (GO) em troca de uma quantia em dinheiro. "está louco", reage o deputado quando é questionado sobre a renúncia. O ex-ministro José Dirceu não só insistiu que não renunciará ao mandato como também afirmou, na reunião da bancada, que pretende lutar, "inclusive na Justiça brasileira", para provar sua inocência. O ministro tem argumentado também que não pode ser punido por supostos atos praticados quando não exercia o mandato. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido a pressão para Dirceu renunciar, numa tentativa de esvaziar a crise e tentar retomar a iniciativa política no Congresso. Dos processos em tramitação no Conselho de Ética, o de Roberto Jefferson é o mais adiantado e deve terminar com a recomendação da cassação do mandato do deputado. Outros quatro já estão sendo analisados, todos pedidos pelo PL contra quatro deputados do PTB. O mais provável é que sejam arquivados, porque o fundamento jurídico é considerado fraco: os deputados foram candidatos pelo PTB nas eleições de 2006 e como Jefferson disse que recebeu R$ 4 milhões para campanhas eleitorais, o requerimento pressupõe que eles tenham sido beneficiados. Os outros dois processos contra petebistas a serem processados hoje podem ter destinos distintos. Francisco Gonçalves é acusado de ter declarado a um jornal que vira uma mala de dinheiro no plenário da Câmara. É um fato considerado insuficiente para uma cassação de mandato. Já Romeu Queiróz aparece numa lista de saques e pode perder o mandato. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), se antecipou à abertura do processo e renunciou ao mandato.