Título: CPI dos Correios convoca Gushiken
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Brasil, p. A2

Num clima de inesperada tranqüilidade entre governistas e oposicionistas, a CPI Mista dos Correios aprovou ontem a convocação, por unanimidade, de vários nomes importantes nas estruturas de governos e de partidos para depor nas próximas reuniões. Os parlamentares decidiram convocar, ainda sem data marcada, a presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, para explicar os empréstimos feitos por Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de operar o pagamento do mensalão no Congresso Nacional, ao PT e ao então tesoureiro do partido, Delúbio Soares. Ela também deve falar sobre a participação do Rural no esquema montado por Valério "Até agora, tivemos todo o cuidado em chamá-la, mas agora não dá mais", afirmou o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). A CPI decidiu abrir todos os contratos de publicidade dos governos federal e de Minas Gerais que tiveram a participação das empresas de Marcos Valério. Pelo menos um dos depoimentos, o mais esperado pelos parlamentares, deve esclarecer os vínculos e as relações entre a publicidade federal e as empresas de Valério: o de Luiz Gushiken, ex-ministro de Comunicação de Governo e atual secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Integrante do chamado "núcleo duro" do governo do presidente Lula, Gushiken terá a companhia do seu então secretário-executivo, Marcus Flora, e do responsável pela área de publicidade do governo, Caio Barsotti. "Vamos fechar o foco na questão da publicidade do governo Lula", avisou a senadora Heloísa Helena (PSol-AL). "Assim, teremos como avaliar a dimensão dos estragos feitos por Marco Valério", concordou o deputado Maurício Rands (PT-PE). Também deporá a funcionária do diretório nacional do PT, Solange Pereira Oliveira, que sacou recursos das contas das empresas de Marcos Valério. O advogado Rogério Tolentino, sócio de Valério, também será ouvido. A CPI requisitou todos os contratos de publicidade entre as agências SMP&B Comunicação e DNA Propaganda e o governo federal nos últimos cinco anos. Também serão investigados os contratos com o governo de Minas desde 1995 até este ano. A comissão solicitou as pesquisas feitas pelo Ibope Monitor sobre os gastos de publicidade dos Correios, mas deixou de fora as avaliações sobre Banco do Brasil e Petrobras. "Se é para investigar, vamos a fundo nisso tudo", protestou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). A CPI convocou o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri; o tesoureiro da campanha do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas em 1998, Cláudio Mourão; o ex-assessor do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e ex-secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno; o ex-presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães. Também deverá comparecer o ex-presidente dos Correios no governo Fernando Henrique Cardoso, Egydio Bianchi - três ex-presidentes da instituição já depuseram na comissão. Numa troca de gentilezas, governistas e oposicionistas desistiram de convocar o ex-procurador-geral da República, Aristides Junqueira, que recebeu recursos das empresas de Marcos Valério para defender a imagem do PT, e o ex-ministro das Comunicações na gestão FHC, Pimenta da Veiga. Ambos serão questionados por escrito.