Título: Buratti se contradiz sobre contrato da GTech com a Caixa
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Brasil, p. A2

O depoimento que o advogado Rogério Tadeu Buratti prestou ontem à CPI dos Bingos não convenceu os senadores da comissão, que detectaram pelo menos duas contradições na versão apresentada pelo ex-assessor do ministro Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto. Buratti foi confrontado com as denúncias feitas, na semana passada, por dois ex-executivos da Gtech do Brasil. Eles o acusaram de cobrar propina de R$ 6 milhões, a mando do ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz, para facilitar a renovação de um contrato de operação de loterias da Caixa Econômica Federal (CEF). O advogado defendeu uma versão diferente. Repetiu mais de dez vezes que não conhece Waldomiro e jamais procurou a Gtech com a finalidade de extorqui-la. Segundo afirmou à CPI, a empresa entrou em contato com ele nas vésperas da renovação do contrato, em abril de 2003, por meio do também advogado Enrico Gianelli. Uma reunião foi marcada no hotel Blue Tree, em Brasília, mas Buratti disse ter pensado que se trataria de "uma proposta de emprego". Conforme seu relato, o ex-diretor de marketing da Gtech, Marcelo Rovai, queria que ele prestasse serviços de "lobista" e apresentou a ele uma tabela com possíveis valores para o pagamento, que variavam entre R$ 500 mil e R$ 16 milhões, dependendo da duração do novo contrato e do desconto que a Gtech teria de dar à CEF para renová-lo. A Gtech acabou assinando um contrato de 18 meses (queria 24) e com 15% de desconto (tentava negociar um percentual menor). De acordo com Buratti, os ex-executivos da empresa afirmaram a ele que vinham tendo "tratativas positivas" com o governo, mas que a Caixa havia endurecido nas negociações, exigindo um desconto maior que o previsto pela Gtech para a renovação, o que poderia até inviabilizar a sua permanência no Brasil. Teriam procurado a sua ajuda, argumentou Buratti, pelas ligações com o ministro da Fazenda, à qual a CEF está subordinada. "Disseram que sabiam que eu tinha relações de amizade com Palocci", afirmou no depoimento. Buratti garantiu que rejeitou a proposta, embora tenha admitido que se reuniu mais uma vez com Rovai. "Eu não tenho nenhuma intimidade recente com o ministro Palocci que me permitisse tratar disso." Para o advogado, a Gtech está buscando "bodes expiatórios e achou um bodão", referindo-se a ele mesmo. "É uma empresa que tem problemas contratuais e há oito anos apresentava problemas na operação de loterias", atacou Buratti, frisando que aceita uma acareação com Rovai. A versão do ex-assessor de Palocci, porém, ficou prejudicada pelas contradições. Ele disse que, com o estouro do escândalo Waldomiro Diniz no ano passado, deixou a Leão Leão, empresa de Ribeirão Preto onde ocupava o posto de vice-presidente e recebia, segundo ele, salário mensal de R$ 45 mil. Buratti afirmou que a sua permanência poderia prejudicar a imagem da companhia e, por isso, acertou uma rescisão contratual. Em depoimento ao Ministério Público em Ribeirão Preto, porém, Luiz Cláudio Leão, sócio e presidente do grupo, informou que Buratti havia manifestado a intenção de deixar a empresa antes mesmo do estouro da crise. Na ocasião, segundo Leão, Buratti teria dito que pretendia "prestar consultoria" ou "ocupar um cargo na Gtech". Dados em poder da CPI revelam ainda que no dia 8 de abril de 2003, data da assinatura do novo contrato da Gtech com a CEF, Buratti trocou dez ligações telefônicas com Ralf Barquete Santos, então consultor da presidência da Caixa, que já morreu. No dia 2 daquele mês, houve pelo menos outras sete ligações. Buratti disse que tinha uma "relação intensa" e "amizade íntima" com Ralf. Para os parlamentares, as explicações do advogado não convenceram.