Título: Crédito do BB a Valério cresce depois de 2003
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Política, p. A7

Crise Relatório parcial da CPI dos Correios mostra que aumento ocorreu depois da posse de Lula

O crescimento "vertiginoso e acelerado" do volume de créditos nas contas do empresário Marcos Valério de Souza, da mulher dele, Renilda Maria e das firmas ligadas ao publicitário no Banco do Brasil foi especialmente forte após 2003, ano da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aponta, sem citar o nome do presidente da República, o relatório parcial da CPI dos Correios, que será entregue pelo relator, Oscar Serraglio (PMDB-PR) "para conhecimento" do plenário da Câmara. Apesar das resistências no Congresso, principalmente dos governistas, Serraglio divulgará os nomes de todos os beneficiários dos saques nas contas ligadas ao publicitário, desde 2000, informados pelos bancos à CPI. O relator concluiu, até agora, somente o relatório com pouco mais de 90 páginas sobre as contas do Banco do Brasil, que, segundo aponta o relatório preliminar, trazem algumas inconsistências e omissões de nomes responsáveis por saques ou depósito. Os técnicos encontram dificuldades mais fortes para consolidar, em planilhas coerentes, os dados sobre as movimentações no Banco Rural, onde foram flagrados como sacadores de recursos parlamentares como o petista Josias Gomes (BA), e a mulher do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), Márcia Regina Milanésio. Serraglio e outros parlamentares, como o sub-relator de Finanças da CPI, Gustavo Fruet (PSDB-PR), têm se queixado da má qualidade dos dados enviados à CPI. Há um "déficit" (retiradas não cobertas pelos depósitos existentes) de R$ 247 milhões entre janeiro de 2003 e julho de 2005. A própria CPI alerta que pode haver dupla contagem em algumas das operações de retirada, principalmente às vinculadas a aplicações financeiras; mas essa duplicidade não seria suficiente para explicar o alto volume de débitos nas contas. A falta de movimentações inferiores a R$ 30 mil, não informadas pelo banco do Brasil, dificulta a avaliação dessa contabilidade, e motivou pedidos adicionais de explicação ao BB, diz o relatório. No relatório preliminar, os relatores da CPI optaram por evitar juízos de valor, comuns nas entrevistas sobre os dados coletados pela comissão. Assim, não há referências às desconfianças dos deputados, de que Valério teria usado firmas de sua propriedade especialmente para servir de canal às operações irregulares vinculadas a pagamentos de campanhas ou ao possível mensalão, a entrega regular de dinheiro a deputados. O relatório afirma, apenas, que as empresas Tolentino & Melo Assessoria Empresarial S?C e a 2S Participações Ltda "somente passaram a apresentar movimentação bancária expressiva a partir de 2003". A Tolentino & Melo acumulou créditos de R$ 6,8 milhões; e a 2S, R$ 20,4 milhões, de 2003 a julho deste ano. A 2S, que chegou a ser definida por um dos sócios de Valério como empresa "virtual", para abrigar lucros do publicitário e sua mulher, Renilda, aparece na lista com saques em favor de assessores de políticos, como Sandra Rocha ex-integrante da gestão de Ademir Lucas (PSDB) na prefeitura de Contagem, com R$ 50 mil. Dois débitos da S2 Participações, em 2004, no total de R$ 3,09 milhões, foram feitos para a corretora Bônus Banval Ltda, apontada como um dos veículos para pagamento de políticos no esquema coordenado por Valério. Quase 40, das 55 páginas com nomes de pessoas que sacaram das contas de Valério, a mulher e suas empresas, são de movimentações a partir de 2003, em grande parte movimentações entre as contas do próprio Valério e suas empresas, e órgãos e firmas relacionados à atividade de publicidade das companhias - rádios, jornais, editoras, outras empresas publicitárias, entre eles todos os grandes jornais do país.