Título: Empresário identifica Clésio Andrade como o mentor do caixa 2
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Política, p. A8

O empréstimo do Banco Rural que financiou, em 1998, o caixa 2 da campanha de reeleição do governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB), foi um pedido do atual governador do Estado, Clésio Andrade (PL). O empresário era, na época, o vice na chapa de Azeredo. E tinha deixado há poucos meses a sociedade nas agências de publicidade SMP&B e DNA. A confirmação do envolvimento de Clésio Andrade, que também é presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), foi feita ontem por Marcos Valério de Souza, em seu depoimento à CPI da Compra de Votos. O empresário mineiro revelou que recebeu um telefonema em sua casa do ex-sócio Clésio Andrade, informando que o tesoureiro da campanha entraria em contato com ele. Cláudio Mourão, que até o início da campanha era secretário de administração de Azeredo, ligou para o empresário no dia seguinte, informando que a campanha seria paralisada, por falta de recursos. Mourão teria dito que Clésio Andrade sugeria como solução que Marcos Valério levantasse um empréstimo junto ao Banco Rural, com o qual mantinha relações comerciais. Segundo Valério, os recursos foram colocados à disposição do tesoureiro da campanha, que determinou a distribuição R$ 1,8 bilhão entre deputados do PSDB e dos partidos da coligação que apoiava Azeredo. O dinheiro foi repassado aos políticos indicados por meio de DOCs que saíram da conta corrente da DNA. Ontem, o empresário mineiro entregou à CPI a relação dos 78 políticos que receberam recursos. Muitos nomes, incluindo os de secretários do atual governador do Estado Aécio Neves (PSDB), já haviam sido divulgados pela imprensa. Mas a relação também trouxe nomes novos, como o da ex-senadora Júnia Marise, que recebeu R$ 200 mil. Para levantar o empréstimo num valor de R$ 9 milhões, a agência de Marcos Valério deu como garantia ao Rural contratos de prestação de serviço ao governo do Estado. Marcos Valério admitiu ontem que, embora tenham sido concretizadas em situações diferentes, as operações para o PSDB em 1998 "são similares" aos empréstimos feitos em 2003 para o PT. Marcos Valério garantiu que o PSDB lhe deu um calote. A dívida dos tucanos não foi paga e acabou executada pelo Rural. Embora os valores corrigidos do empréstimo ultrapassassem R$ 12 milhões quando o contrato foi executado, o banco acabou fechando um acordo por R$ 3 milhões. O empresário sustenta que além do desconto concedido pelo banco, houve pagamento de parte em prestação de serviços na reestruturação da marca e da comunicação do Banco Rural. O calote do PSDB estaria também na origem do rompimento entre Marcos Valério e Clésio Andrade, segundo fontes próximas aos dois. O vice-governador de Minas entrou na Justiça para receber o pagamento das suas ações na SMP&B e DNA. Valério e seus sócios argumentaram que a dívida tinha sido quitada sim, embora não tenham explicado os detalhes da negociação. Clésio Andrade acabou aceitando um acordo com o ex-sócios para receber R$ 1 milhão pela sua parte nas agências, muito abaixo de seu pleito inicial, conforme seu próprio relato. Cláudio Mourão, o tesoureiro da campanha tucana, também recorreu à Justiça, numa ação contra Eduardo Azeredo e Clésio Andrade. A ação, que pede ressarcimento por dívidas de campanhas que foi obrigado a assumir, ainda não foi julgada. Desde que as denúncias sobre o caixa 2 do PSDB de Minas vieram à tona, Mourão não foi localizado. Seus advogados informaram ontem que o ex-tesoureiro está na Argentina e não poderia comentar o assunto. Eduardo Azeredo, que hoje é senador e presidente nacional do PSDB, divulgou ontem mais uma nota para dizer que nunca teve conhecimento desse socorro financeiro da campanha. Segundo ele, pedir um empréstimo a Marcos Valério, foi uma decisão pessoal de Cláudio Mourão. O atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade, não foi localizado ontem para comentar o assunto. E nem mesmo sua assessoria de imprensa retornou os recados deixados pela reportagem. Quando o esquema mineiro foi parar na mídia, Andrade deu entrevistas negando qualquer envolvimento com a operação. Ele argumentou que estava encarregado de percorrer pelo interior, que não participava da coordenação da campanha. Disse ainda que, afastado das agências de publicidade, também não tinha qualquer participação nas decisões das empresas. Ao dizer na CPI do Mensalão que reproduzira, com o PT o esquema utilizado com o PSDB em Minas Gerais, Marcos Valério identificou Clésio Andrade como o elo entre as duas situações. O vice-governador de Minas foi um dos principais personagens da aproximação entre Lula e o PL de Minas, concretizado com a escolha do empresário José Alencar para vice-presidente. No depoimento à CPI do Mensalão, Valério confirmou o nome de um secretário e um subsecretário do governador de Minas, Aécio Neves. Um deles é o secretário de Ciência e Tecnologia, Olavo Bilac Pinto Neto, que teria recebido R$ 20 mil. O outro é o subsecretário de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira, que aparece na lista entregue por Valério à CPI do Mensalão nesta terça-feira como tendo recebido R$ 7 mil. Outro que aparece na lista é o presidente da Fundação João Pinheiro, Amilcar Martins, que teria recebido R$ 6 mil. A fundação pertence ao governo do estado. Ainda de acordo com a lista, o ex-prefeito de Barroso e presidente do Instituto de Laticínios Cândido Tostes (Epamig), Baldonedo Arthur Napoleão, teria recebido R$ 3 mil