Título: Luiz Dulci volta a ser cogitado para presidir o PT
Autor: Raymundo Costa e Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Especial, p. A12

O nome do ministro Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência da República, voltou a ser cogitado para a presidência do PT, diante das condições impostas pelo ex-ministro Tarso Genro para disputar o cargo, nas eleições marcadas para o dia 18 de setembro. Tarso quer ter "autoridade" para dirigir a legenda, mas sente-se desafiado pelo chamado Campo Majoritário, o grupo comandado pelo deputado José Dirceu (SP), que detém o controle da máquina partidária. Ontem, Dirceu e Tarso estiveram frente a frente na reunião da bancada do PT na Câmara para a eleição do novo líder. Dirceu disse que mantinha o apoio à candidatura de Tarso, mas que a força do Campo Majoritário dava-se pela atual composição do partido. Na véspera, em entrevista, Tarso havia dito que quem estava gerindo de fato o partido era a antiga maioria (o Campo Majoritário) e ameaçou até desistir de sua candidatura se não pudesse conduzir a transição com autonomia. Na reunião com a bancada do PT, Tarso Genro insistiu que aceitara sob "condições" a idéia de presidir o partido, entre elas a de efetivamente promover a "refundação" do partido. Fez questão de ressaltar que não estava renunciando, mas que não aceitaria dirigir o PT aceitando imposições. Fez duras críticas à gestão anterior, como a de que a relação com o governo não era feita pelas instâncias partidárias, mas informalmente. Como exemplo, disse que as indicações para cargos no governo não constavam de nenhuma das atas do partido. Em campanha, defendeu que a bancada se reúna mais vezes com o presidente da República e que a escolha de seu novo líder deveria ter o critério da "pluralidade". Segundo o ex-ministro da Educação, "um dos problemas para a crise foi não ter sido dado espaço para o contraditório". Para Tarso Genro, "a bancada deve ser o centro da discussão partidária" e o novo presidente do PT "deve agregar de 70% a 80% da bancada, para ter representatividade". Na realidade, Tarso Genro tenta se ancorar na bancada de deputados do PT para tentar escapar à tutela do Campo Majoritário, que continua dando as cartas no partido, sob o comando de José Dirceu. "É preciso apoio na bancada para (o novo presidente) ter de fato autoridade sobre o partido", defendeu Tarso Genro, à saída da reunião. A manutenção da influência de José Dirceu no partido ficou evidente na reunião do fim de semana. Por ingerência do ex-ministro da Casa Civil, a direção partidária rejeitou a sugestão de que os deputados que renunciarem ao mandato agora não tenham legenda para disputar a eleições de 2006. Numa intervenção curta, mas contundente, Dirceu disse na reunião da bancada que a proposta era uma bobagem, porque qualquer deputado conseguiria revogá-la na Justiça. Apesar de Dirceu ter reafirmado apoio a Tarso, o fato é que o PT, incluindo o grupo majoritário, voltou a discutir a candidatura de Dulci. Da ala independente, o ministro é ligado a Lula e poderia ser a solução para promover um acordo entre as principais tendências que compõem o PT. O Campo Majoritário desconfia das intenções de Tarso Genro em relação ao grupo e nega que suas derrotas, na reunião do fim de semana, se devam a José Dirceu. Culpam o próprio Tarso por ter-se aliado à esquerda do partido. Primeiro, posicionando-se contrário à política econômica do ministro Antonio Palocci (Fazenda) e, depois, ao pedir a todos os diretórios - mesmo aqueles não envolvidos em denúncias de caixa 2 - informações sobre as contas oficiais e não oficiais do partido, o que teria colocado a maioria contra o novo presidente. Sem um acerto interno, a bancada do PT elegeu um líder provisório, por 15 dias, para o lugar do deputado Paulo Rocha (PA): Fernando Ferro (PE). Em São Paulo, o PT escolheu, em reunião da Comissão de Ética, a vereadora de Ipatinga (MG) Lene Teixeira como nova coordenadora. Lene, que integra a Executiva estadual do PT de Minas, já fazia parte da comissão como suplente, assume o cargo de Danilo Camargo. A comissão também definiu uma nova data para ouvir o ex-tesoureiro Delúbio Soares e suas testemunhas. Será na terça-feira, dia 16, às 10h, no Diretório Nacional, em São Paulo. (Com agências noticiosas)