Título: Celulares aumentam prejuízo em 238%
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Empresas &, p. B3

Telefonia Competição acirrada levou operadoras a registrar perda de R$ 263,3 milhões no segundo trimestre

O acirramento da competição no setor de telefonia móvel saiu caro. O prejuízo líquido de oito operadoras listadas na Bovespa aumentou 238% no segundo trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2004. Segundo levantamento feito pelo Valor Data com base nas demonstrações financeiras, o resultado conjunto dessas empresas entre abril e junho ficou negativo em R$ 263,3 milhões. No segundo trimestre do ano passado, a perda foi de R$ 77,9 milhões.

Entre janeiro e junho, as companhias que formam a Vivo, Oi (consolidada no resultado da Telemar), Telemig, Amazônia Celular (Tele Norte) e TIM Participações (um pedaço da TIM no Brasil) acumularam prejuízo líquido de R$ 177,4 milhões. A deterioração nos números é reflexo da busca desenfreada por clientes a qualquer preço, que acarreta custos maiores para as operadoras e não faz crescer as receitas na mesma proporção. Para conquistar mais assinantes no Dia das Mães e no Dia dos Namorados, as empresas aumentaram os subsídios à venda de aparelhos - atividade que dá prejuízo. A conseqüência disso é que o lucro da atividade (antes do resultado financeiro) caiu 54,7% e ficou em R$ 218,4 milhões. "É difícil prever até quando elas agüentam", disse o analista Eduardo Roche, da corretora Ágora. "A estratégia das empresas é ganhar escala, mas o lado financeiro começa a ficar inviável." A conta é simples e mostra por que os números não fecham: as teles elevaram os investimentos para conquistar mais assinantes; porém, a expansão da base está acontecendo entre a população de menor poder aquisitivo, um público que compra celulares pré-pagos e gera pouca receita. No segundo trimestre deste ano, as teles alcançaram receita líquida de R$ 4,7 bilhões, ou 16,5% acima do mesmo período de 2004. A variação das vendas foi muito menor do que o aumento do prejuízo. As operadoras da Vivo tiveram o pior desempenho da amostra. As cinco empresas que formam o grupo reduziram o lucro ou aumentaram o prejuízo no período. A Telesp Celular Participações (TCP), maior delas, registrou sozinha uma perda de R$ 278,4 milhões - mais elevada do que o prejuízo somado das oito empresas analisadas pelo Valor Data. O segundo trimestre de 2005 evidenciou, como nunca, o dilema da Vivo. Líder do setor, com 28,4 milhões de clientes, a operadora entrou com agressividade nas promoções para estancar a perda de participação no mercado. Porém, teve de sacrificar a rentabilidade para isso. A Vivo, controlada pela Portugal Telecom e Telefónica Móviles, tinha 43% da base de usuários de celulares no Brasil na metade do ano passado. Em junho de 2005, essa fatia havia caído para 38%. A informação é do site Teleco, especializado em telecomunicações. "A Vivo prioriza a rentabilidade, mas vai agir comercialmente sempre que se sentir ameaçada", disse o presidente da operadora, Roberto Lima, quando o balanço foi divulgado. Segundo o executivo, a empresa está cortando despesas com o objetivo de sobrar mais dinheiro para os subsídios. Apesar da piora, a Vivo ainda é uma das empresas com melhor margem operacional e maior receita média por cliente. Esses indicadores estão em queda quase generalizada no setor. A Telemig Celular obteve a maior margem operacional no trimestre: 40,9% (considerado o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações). Contribuíram para isso a liderança no mercado mineiro e a decisão de se manter menos agressiva nas ofertas. "Não estamos embarcando na guerra de preços", afirmou o presidente da companhia, Ricardo Grau. "Empresas que fazem isso fazem filantropia. Se continuarem assim, farão autofagia. Só ao varejo interessa isso." Apenas duas teles melhoraram o resultado da atividade no segundo trimestre. Uma foi a Oi, da Telemar. Para analistas, a empresa começou a se beneficiar dos ganhos de escala, após ter alcançado 8,1 milhões de clientes (alta de 59,2% em 12 meses). "A Oi conseguiu manter um ritmo de crescimento forte e com rentabilidade", afirmou o diretor financeiro da Telemar, Marcos Grodetzky. A outra companhia que melhorou o desempenho operacional foi a TIM Participações. A empresa é o braço da TIM no Sul e no Nordeste. O grupo italiano atua em todos os Estados brasileiros, mas o restante de suas operações não é listado em bolsa e, portanto, não tem balanços trimestrais. Um dos fatores para a recuperação na TIM Participações foi a decisão da operadora de investir em serviços de alto valor agregado (transmissão de dados). A operadora teve lucro líquido de R$ 73,1 milhões entre abril e junho - o maior do conjunto analisado. No mesmo período do ano passado, o ganho foi de R$ 18 milhões ou de R$ 40,4 milhões pro forma. Nesse último caso, leva em conta os efeitos da incorporação da operadora do Nordeste pela empresa do Sul, anunciada na metade de 2004. A receita pro forma do segundo trimestre do ano passado teria sido de R$ 601,3 milhões.