Título: CSN diz que monopólio ameaça as siderúrgicas
Autor: Vera Saavedra Durão, Francisco Góes e Juliano Basi
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Empresas &, p. B8

"Para a CSN, fica claro que a concentração da produção de minério e da logística chegou a um nível que ameaça a competitividade da siderurgia porque a Vale tem nas mãos, estruturalmente, o poder de aumentar o preço do minério muitas vezes", avalia o diretor executivo de infra-estrutura e energia da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Marcos Lutz. A constatação leva Lutz a considerar que devem ocorrer restrições às aquisições feitas pela Vale, no julgamento do tema no Cade, pois caso contrário, a siderurgia brasileira ficaria sujeita a um grande risco (o monopólio na estrutura de produção e transporte de minério). Neste quadro, a CSN considera-se como uma das siderúrgicas mais "blindadas" porque possuiu uma mina (Casa de Pedra) e um porto (o terminal de carvão, Tecar, em Sepetiba). "O mercado brasileiro teria um problema e a CSN um problema menor (em caso de manutenção do monopólio)", avaliou Lutz. Como exemplo do poder da Vale, ele citou o fato de que a mineradora tem acesso às condições dos contratos, em termos de volumes, prazos e preços, fechados pela CSN, em Casa de Pedra, na venda de cerca de 8 milhões de toneladas anuais de minério para Açominas, Cosipa e Belgo. A Vale também compra minério da CSN. Tudo por força do direito de preferência que a Vale tem no excedente das vendas da mina de Casa de Pedra. O acordo sobre Casa de Pedra foi assinado quando do descruzamento acionário entre Vale e CSN e a siderúrgica de Volta Redonda alega que não teve outra alternativa, no momento, senão assiná-lo. Logo depois, com a compra da Ferteco e da Caemi, pela Vale, a situação ficou insustentável, na visão da CSN. A Vale passou de 67% para 100% do mercado nacional de pelotas de ferro; de 29% para 84% do mercado nacional de minério de ferro granulado; e de 41,5% para 88% do mercado nacional de fino de minério (sinter feed). Em nota, a CSN afirmou que essa concentração "é sem precedentes, mesmo em âmbito mundial, e no Brasil muito superiores aos casos emblemáticos como os da AmBev e Nestlé." De acordo com a empresa, o caso é muito relevante por "estar diretamente ligado a um setor estratégico para a economia como o siderúrgico. A mineração é um setor que tem impacto brutal na competitividade nacional, tendo resultados em setores como automotivo, de embalagens, linha branca, construção civil, entre outros", diz a nota da empresa. E completa: "A aprovação dos atos de concentração em análise, mesmo parcialmente, teria um importante impacto negativo na atratividade para investimentos em siderurgia no Brasil." Lutz citou ainda o caso da MRS, que também é objeto de análise no processo do Cade. A queixa das siderúrgicas, representadas pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), é de que a Vale não pode participar das decisões estratégicas da MRS e, ao mesmo tempo, deter o controle da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), dois corredores ferroviários concorrentes no escoamento do minério de ferro. A proposta das siderúrgicas é que a Vale saía completamente do capital da MRS. A fatia da mineradora seria comprada pelos demais sócios, defendeu Lutz. Gerdau, Usiminas e CSN têm interesse no negócio. Em relação à afirmação do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, de que todas as aquisições da Vale devem ser reprovadas pelo Cade, fontes do setor avaliam que, dificilmente, a mineradora venderia esses ativos para a CSN.