Título: Rosso prega união
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2010, Cidades, p. 61

Em meio a risos provocados pelo ex-governador Wilson Lima e lágrimas com o discurso de duas de suas filhas, peemedebista assume o Buriti e volta a prometer que não será candidato em outubro

Em uma cerimônia que oscilou entre risos e lágrimas, o novo governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), tomou posse ontem. É o quarto chefe do Executivo em pouco mais de dois meses. Repleto de convidados, o plenário da Câmara Legislativa refletia a composição que tornou possível a vitória de Rosso e Ivelise Longhi (PMDB) ainda em primeiro turno no último sábado. Lá, se misturavam harmoniosamente petistas e peemedebistas, representados especialmente pelas presenças do deputado federal Tadeu Filippelli, que preside o PMDB no DF e foi o grande mentor da conquista do governo-tampão, e de Agnelo Queiroz, pré-candidato ao PT nas eleições de outubro. Os dois devem se unir em torno de um projeto de poder em comum.

Até pouco antes do início da solenidade de posse, a presença de Wilson Lima (PR) era duvidosa. Houve quem apostasse que o distrital, magoado com a derrota do fim de semana, deixaria de participar do evento. Mas Lima chegou à Câmara, compôs a mesa de autoridades e discursou. Deu o braço a torcer. Admitiu a conquista do adversário. Sem, no entanto, acertar o nome do oponente. ¿É um dia diferente de todos os outros. Parlamentares que representam o povo votaram para eleger o governador e tenho que reconhecer que a vitória de Rogério Russo (sic) é legítima¿, considerou Lima, para quem os escândalos em nada devem interferir nas comemorações dos 50 anos de Brasília. ¿Vamos deixar a crise política de um lado e a festa para o povo de outro.¿ Por mais duas vezes, Wilson tratou Rosso por Russo. Foi advertido e corrigiu: ¿Tudo bem, é Rosso, Rosso, Rosso¿, repetiu, levando a plateia ao riso.

Rosso prestou o juramento obrigatório de governador eleito, comprometendo-se a obedecer à Constituição e a cumprir a Lei Orgânica do Distrito Federal. Espontaneamente, decretou que não é hora de apostar no fracasso. ¿Mas (é hora) de união entre um grupo tão expressivo para acabar com a crise e o que se chamou de metástase institucional¿, afirmou. Anunciou um inimigo do governo e da sociedade, a corrupção, e reconheceu que as pessoas esperam dele o resgate da normalidade. ¿Temos 250 dias, o que é considerado pouco para os pessimistas de plantão. Não abriremos mão da ajuda de quem quer espantar fantasmas do medo da desconfiança e da presunção.¿ E prometeu: ¿Assumi o compromisso, né, Ivelise, de não disputar qualquer cargo eletivo em outubro¿.

O trecho mais emocionante do discurso de Rosso não foi propriamente falado por ele. O governador dividiu a tribuna com as três filhas pequenas, que o assistiam ao lado da primeira-dama, Karina Curi ¿ o filho, Henrique, 2 anos, ficou na plateia. Rosso sacou do bolso do paletó duas folhas manuscritas pelas filhas mais velhas, Roberta, de 8 anos, e Karen, 7, que graciosamente pediram mais livros nas escolas, mais saúde, mais transporte, mais paradas de ônibus. Karen ainda alertou ao pai-governador para ¿não matar pessoas¿. A participação especial levou Rosso a chorar e provocou os aplausos da platéia. De saída da presidência da Câmara Legislativa, Cabo Patrício (PT) falou. ¿Fizemos nosso papel, a eleição foi legitimada pela Justiça, todos os 24 deputados participaram, demos a nossa contribuição para levar o DF à normalidade¿, afirmou.

Beija-mão Depois da posse, governador e vice seguiram para o Palácio do Buriti, onde cumpriram o ritual do beija-mão. Uma fila interminável de aliados e até de adversários se formou no salão da sede oficial do governo. Foram quase duas horas de cumprimentos, recados ao pé do ouvido de Rosso e fotos. Teve retrato com o pré-candidato do PT, Agnelo Queiroz, com o ex-distrital Pedro Passos (PMDB), com Geraldo Naves, que passou 61 dias preso acusado de ter ajudado o ex-governador José Roberto Arruda a subornar testemunha-chave da Caixa de Pandora. Até Raad Massouh (DEM), o único a se abster na votação de sábado, esteve no Buriti. O ex-deputado federal José Edmar, que trabalhou intensamente pela eleição de Wilson, também apareceu na posse. Afinal, governo Wilson Lima é passado.

Perfil Atuou com Roriz e Arruda

Arquiteta de formação e concursada do GDF na carreira de fiscalização, Ivelise Longhi foi eleita vice-governadora pelo mandato-tampão por força de um grupo que atualmente trabalha contra Joaquim Roriz. Mas foi pelas mãos do ex-governador que ela ingressou na carreira política. Era 1994, Roriz era governador e Arruda, secretário de Obras. Ivelise Longhi foi sua adjunta. Quando Arruda saiu para ser candidato, assumiu a pasta. Foi daí que se iniciou uma aproximação que mais tarde foi retomada, já no governo Arruda.

O governo seguinte seria de Cristovam Buarque. Ivelise foi abrigada como chefe de gabinete de Luiz Estevão, na época deputado distrital. Com o retorno de Roriz, vencedor das eleições de 1998, Ivelise assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação. Com o cargo, cacifou-se politicamente para concorrer a uma vaga de distrital pelo PMDB. Ficou na primeira suplência. Acabou assumindo o mandato com a saída de Odilon Aires.

Com a nomeação da distrital Anilcéia Machado para o Tribunal de Contas do DF, Ivelise efetivou-se no cargo. Em 2006, não conseguiu se reeleger. A política tornou-se uma das primeiras integrantes do PMDB a ser incluída no governo Arruda. Primeiro foi indicada para uma das diretorias da Terracap e depois atuou como administradora de Brasília. (LT)

Cerimônia de posse sem incidentes

Luiz Calcagno

Um total de 300 policiais militares foi destacado para fazer a segurança da Câmara Legislativa na posse de Rogério Rosso. Além do contingente destacado, 200 homens ficaram de prontidão nas imediações. Mais de 20 veículos, entre carros e ônibus da PM, apoiaram os soldados. Apesar do forte esquema, a posse de Rosso não recebeu a mesma atenção dos manifestantes que a eleição indireta realizada no último sábado, quando policiais e manifestantes entraram em conflito. O tenente-coronel Jorge Luiz Damasceno ressaltou que a presença da polícia no local, mesmo com o clima de tranquilidade, foi importante. Segundo ele, a PM estava de prontidão, mas não com o objetivo de impedir manifestantes, e sim para ¿preservar o bem público¿.

Do lado de fora, a movimentação em frente ao prédio da Câmara teve cara de limpeza. Funcionários do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) substituíram a placa de identificação da instituição, que havia sido depredada no sábado. Mas nem por isso os sinais de insatisfação com o GDF foram esquecidos. Duas faixas vermelhas permaneceram ao lado da entrada principal durante toda a manhã. Uma delas exibia os dizeres: ¿Você sabe o que é barra pesada? É Geraldo Naves votar para governador nas eleições indiretas do DF¿.

Apenas um integrante do grupo Fora Arruda esteve na Câmara. O estudante de letras da Universidade de Brasília (UnB) Diogo Ramalho, 26 anos, no entanto, não foi protestar contra a posse, e sim denunciar maus-tratos que teria sofrido após ser preso nas manifestações do último sábado. A União dos Estudantes do DF e Entorno foi o único grupo a marcar presença no evento. Com apenas oito integrantes, foram prestar apoio a Rogério Rosso.