Título: Tesouro fica fora e derruba dólar
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2005, Finanças, p. C1

Câmbio Levy indica que não há "maior urgência" para retomar compras e taxa cai para R$ 2,29

O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, disse ontem que não há "maior urgência" para a instituição retomar as compras de dólares no mercado, mesmo num cenário de menor volatilidade no câmbio. Segundo ele, o Tesouro está adiantado no seu programa de aquisição da moeda americana, que prevê compras de US$ 9,5 bilhões neste ano. Há duas semanas, quando a crise política provocou turbulências mais fortes no mercado, a instituição afirmou que não atuaria enquanto houvesse instabilidade. As declarações de Levy colaboraram para o recuo de 1,5% do dólar, que fechou em R$ 2,295, o nível mais baixo desde abril de 2002. O secretário do Tesouro disse ainda que "por enquanto" trabalha com a meta oficial de superávit primário de 4,25% do PIB para este ano, ainda que, no acumulado em 12 meses, a economia para pagar juros esteja em 5,1% do PIB. Bastante cauteloso, Levy não fez nenhum comentário incisivo sobre a atuação do Tesouro no câmbio. Disse que não observa nenhuma volatilidade excessiva no momento, repetindo o mantra de que a instituição não interfere no mercado em momentos de maior oscilação. Levy lembrou que o Tesouro tem um programa de compras de dólares combinado com o Banco Central (BC), ressaltando que está bastante adiantado nesse cronograma. Ele não confirmou, porém, as estimativas de alguns economistas do mercado, de que o Tesouro já comprou US$ 8 bilhões a US$ 8,5 bilhões dos US$ 9,5 bilhões previstos para pagar compromissos externos neste ano. "Eu não teria como dizer esse número, até porque é uma coisa mais operacional com a qual não tenho envolvimento direto. Mas sem dúvida nós estamos relativamente adiantados dentro da nossa estratégia de prudência", afirmou ele, lembrando ainda que o Tesouro sempre considera se o momento é favorável à entrada no mercado. Ele também disse ser "admissível" o Tesouro acessar o mercado internacional para financiar antecipadamente os compromissos externos que vencem em 2006. Levy ressalvou, porém, que não há nenhuma consideração a esse respeito no momento. O cronograma de emissões externas para 2005, de US$ 6 bilhões, já foi concluído - desse valor, US$ 1,5 bilhão foi captado no ano passado. O secretário do Tesouro também se mostrou animado com os indicadores econômicos mais recentes, lembrando que a produção industrial de junho cresceu 6,3% em relação ao mesmo mês de 2004 e que o IPCA de julho teve alta de apenas 0,25%. "Uma economia que vai bem em geral favorece uma situação fiscal boa", afirmou ele. Levy disse ainda, com ironia, que há um "risco" de o país crescer 3,4% neste ano e 4% em 2006. O mercado espera um crescimento de 3% para este ano - os 3,4% são a previsão do Banco Central (BC). O secretário do Tesouro atribuiu o elevado superávit primário no primeiro semestre, de 6,43% do PIB, principalmente ao resultado das empresas estatais, beneficiadas pelo crescimento da economia, e aos Estados e municípios, que têm se beneficiado de transferências bastante robustas. "O Tesouro tem feito uma execução fiscal bastante tranqüila", disse ele. Questionado se o governo persegue informalmente um superávit primário de 5% do PIB em 2005, como cogitam alguns analistas, Levy disse que "está olhando uma meta de 4,25% do PIB por enquanto". Economistas como Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acreditam que o governo deve fazer um superávit maior, mais próximo de 5% do PIB, aproveitando o excesso de arrecadação, mas que não vai anunciar o aumento da meta devido ao custo político de explicitar um esforço fiscal mais forte.