Título: Delgado rejeita pressões e diz que julgamento de ex-ministro será político
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A5

"Não quero antecipar a cassação nem garantir a absolvição", afirmou o deputado Júlio Delgado, após ter sido indicado relator do processo que vai analisar a quebra de decoro parlamentar do ex-ministro José Dirceu, no Conselho de Ética da Câmara. Líder do PPS na Câmara em 2004, ele é do mesmo grupo do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que lutou para manter o partido na base de apoio ao governo Lula no Congresso. O grupo deixou o partido e se filiou ao PSB há um mês após ter perdido a queda de braço com o deputado Roberto Freire, que conseguiu levar o PPS para a oposição. Apesar de ser da base, Júlio Delgado garante que não vai aceitar pressão para dosar a punição a José Dirceu. "Não vou me pautar por pressão porque lutei para estar no Conselho de Ética e este é o desafio mais ousado de todo o meu mandato", afirmou. Júlio Delgado avalia que ainda não há provas que incriminem Dirceu, apenas contradições entre a defesa do ex-ministro e as acusações feitas pelo deputado Roberto Jefferson e o empresário Marcos Valério de Sousa. Mas ele avisa: "O julgamento aqui é político e não jurídico". Júlio Delgado quer construir seu relatório investigando as contradições. A primeira é se Dirceu mentiu quando afirmou em depoimento ao Conselho de Ética que foi um homônimo e não seu assessor, Roberto Marques, o beneficiário de um repasse de R$ 50 mil da SMP&B. A segunda é se o ex-ministro influenciou a concessão de empréstimos ao PT por parte dos bancos BMG e Rural. Para esclarecer o fato, Delgado quer convocar os presidentes do BMG e do Banco Rural. O relator quer saber também se José Dirceu interferiu na liberação de empréstimo do Banco Rural para a compra de um apartamento de sua ex-mulher, que também conseguiu um emprego no BMG a pedido do ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira. Delgado vai investigar ainda se o ex-ministro teve envolvimento na viagem que Valério fez a Lisboa para tentar obter doações da Portugal Telecom para o PT e o PTB, conforme denúncia do deputado Roberto Jefferson. Em depoimento ao Conselho de Ética na semana passada, José Dirceu negou todas as acusações. Mineiro de Juiz de Fora, Júlio Delgado é advogado e está no segundo mandato de deputado federal. É filho de Tarcísio Delgado, um pemedebista histórico, que foi deputado federal e prefeito de Juiz de Fora (MG) por três mandatos. (JP)