Título: Relator da cassação de Dirceu é da base aliada
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2005, Política, p. A5

Crise Dois outros relatores, dos processos de Sandro Mabel e Romeu Queiroz, são do PP e do PMDB

O Conselho de Ética da Câmara abriu ontem processo para investigar a quebra de decoro parlamentar do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), e dos deputados Romeu Queiroz (PTB-MG) e Francisco Gonçalves (PTB-MG). A punição pode chegar à cassação do mandato. A partir de agora, a renúncia não evita mais a perda de mandato. Júlio Delgado (PSB-MG) será o relator do processo contra Dirceu. O Conselho de Ética decidiu abrir o processo contra Dirceu com base em parecer da Assessoria Técnica da Câmara. "O deputado continua parlamentar mesmo sem estar no exercício do mandato, mantendo todas as suas prerrogativas", cita. Com base no parecer, foi considerada improcedente a tese do ex-ministro de que ele não poderia ser processado por acusações feitas enquanto estava na Casa Civil. José Dirceu, que já havia anunciado que não renunciaria ao mandato, passou o dia com advogados para preparar sua defesa. Esteve na Câmara apenas para registrar presença no plenário. Ele ainda avalia a possibilidade de recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a abertura do processo. "Estou tranqüilo. Sei que vou enfrentar um julgamento político, mas terei a mesma disposição que sempre tive em outras tantas lutas políticas nos meus quarenta anos de vida pública", disse por meio de sua assessoria. Dirceu argumenta que a representação do PTB é insustentável porque não teria apresentado provas de que seja operador do mensalão. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP) justificou a escolha do relator do processo, Júlio Delgado, um parlamentar da base de apoio ao governo, porque não queria no cargo alguém de um partido adversário, nem do mesmo Estado ou do mesmo partido do acusado. "Vários deputados do Conselho me procuraram nos últimos dias para ser relator do caso Dirceu. Decidi pelo Delgado porque o PSB não está envolvido no escândalo e tem certa autonomia com relação ao PT", justificou. Izar recomendou a Delgado não transformar o caso Dirceu em palco. "Não quero bagunça. Pedi a ele que ofereça amplo direito de defesa", afirmou. Ricardo Izar vai requisitar ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, o envio imediato ao Conselho da lista com os 14 deputados acusados de envolvimento em saques das empresas de Marcos Valério de Souza. Hoje, vai pedir ao presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que encaminhe os nomes dos parlamentares com suspeitas de envolvimento no mensalão para a abertura de processo. "A idéia é que estes processos tramitem juntos", afirmou. Izar quer evitar que as representações feitas a critério de cada partido aos poucos acabem transformando os pedidos em guerra política. Foi aberto processo também contra Romeu Queiroz, que teria sido beneficiário de R$ 350 mil, mas admite apenas ter recebido R$ 102 mil, de uma doação da siderúrgica Usiminas, feita por meio da SMP&B. O relator será o deputado Josias Quintal (PMDB-RJ). Benedito de Lyra (PP-AL) será o relator do processo contra o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel, acusado de ter oferecido R$ 1 milhão à deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) para mudar de partido.